A reitoria da UFRJ e
a direção do Museu
Nacional divulgaram
nota no dia 27 de
março relacionada à
matéria publicada no
jornal
Folha de S. Paulo,
de 26/3, que
informava que o
governo federal atua
para transformar o
Museu Nacional –
cujo prédio e parte
do acervo foram
parcialmente
destruídos por um
incêndio em setembro
de 2018 – num centro
turístico dedicado à
família imperial que
governou o Brasil
até à Proclamação da
República, em 1989.
Segundo o jornal, a
iniciativa é
articulada por
entusiastas da
monarquia de dentro
e de fora do
governo. A ideia do
grupo monarquista é
que o palácio de São
Cristóvão, antiga
residência dos
monarcas Pedro I e
II, seja
reconfigurado para
abrigar um centro
dedicado ao Brasil
imperial. O
argumento é que a
reconfiguração teria
apelo turístico e
preservaria a
memória histórica do
país. O acervo
científico do museu
seria destinado a um
anexo da
propriedade. O
principal defensor
da iniciativa era o
ex-ministro Ernesto
Araújo, das Relações
Exteriores, até
então expoente da
ala ideológica do
governo Bolsonaro.
O Museu Nacional é
um equipamento de
perfil acadêmico e
científico, e tem
papel central para
pesquisas nas áreas
como antropologia
social, arqueologia,
zoologia e botânica.
É ligado à
Universidade Federal
do Rio de Janeiro, a
UFRJ, desde a década
de 1930. O palácio é
a casa do Museu
Nacional desde 1892,
sendo a mais antiga
instituição
científica do país.
A iniciativa
desvirtuaria,
portanto, o uso que
vem sendo dado ao
espaço desde o
início do período
republicano no
Brasil.
O diretor do museu,
Alexander Kellner,
disse à Folha que a
instituição não foi
consultada sobre
qualquer alteração
no projeto de
restauração em
andamento. “Essa
ideia é uma das mais
estapafúrdias que já
ouvi, nunca vi mais
absurdo e ridículo.
Seria matar o museu
mais uma vez”,
disse. “Aquele
palácio sempre foi
museu de história
natural”.
As negociações
causaram também
surpresa na reitoria
da UFRJ. Segundo a
reitora, Denise
Pires de Carvalho, a
movimentação “parece
um golpe”. “Não
acredito que o MEC
vá tomar uma
iniciativa de
enfraquecer a área
de antropologia
social, arqueologia,
zoologia, botânica,
sem que a
universidade seja
avisada”, disse. “Há
pós-graduações
envolvidas de
excelente nível, não
é uma instituição
estanque da
academia, é
importante para a
universidade e
também para o museu
que ele permaneça
aqui”.
A
Nota
da reitoria da UFRJ
e da direção do
Museu Nacional
“Museu Nacional
pertence à UFRJ
A respeito de
informações
veiculadas pelo
jornal Folha de S.
Paulo, que expõem um
suposto interesse de
grupos ideológicos
aninhados no governo
federal na
transformação do
Museu Nacional (MN)
em palácio imperial
com intenções
dúbias, desprezo do
acervo e consequente
desvinculação entre
o Museu e a
Universidade Federal
do Rio de Janeiro, a
UFRJ vem a público
repudiar quaisquer
movimentos que
tentem alterar o
papel e a
configuração do mais
antigo instituto
científico do
Brasil.
Lembramos que todas
as áreas do Museu
Nacional pertencem
tão somente à UFRJ,
que detém autonomia
didática, científica
e de administração
financeira garantida
pelo artigo 207 da
Constituição
Federal. Assim
sendo, qualquer
deliberação
patrimonial
demandaria aprovação
colegiada em
diversas instâncias
superiores da
Universidade, como o
Conselho de
Curadores e o
Conselho
Universitário (Consuni
− órgão máximo da
UFRJ), estruturas
que, certamente,
rejeitariam a
proposta obscura. A
atual Reitoria
reafirma que não há
motivação para que
tal pedido, sem
fundamento, seja
encaminhado aos
colegiados
superiores.
A grosseira intenção
presumida
configuraria não só
ato descabido, mas
também tirânico
contra a autonomia
universitária,
garantida pela
Constituição
Federal, contra a
comunidade
científica
brasileira e
internacional,
contra a sociedade.
É importante
destacar, ainda, que
o Museu Nacional não
é entidade dedicada
apenas à guarda de
acervos. Além de ser
casa da memória e do
louvor à cultura e
história do país e
do mundo, ele é casa
de produção de
saberes, de ciência
de ponta. Por
exemplo, os estudos
arqueológicos lá
desenvolvidos
representam o Brasil
nos mais diversos
rankings
universitários
internacionais que,
ano após ano,
colocam o Museu
sempre em posição de
vanguarda no país e
na América Latina.
Rejeitar seu
histórico e
potencial para o
Brasil é denegar a
própria história.
Por fim, frisamos
que o Museu Nacional
é uma unidade da
UFRJ de ensino,
pesquisa e extensão,
cuja
indissociabilidade é
prevista na
Constituição Federal
e na Lei de
Diretrizes e Bases
da Educação Nacional
(LDB). O corpo
social, que, diga-se
de passagem, é
altamente
qualificado −
composto por
professores,
pesquisadores,
estudantes,
servidores
técnico-administrativos
em educação e
terceirizados −,
jamais se dobraria a
invenções
estapafúrdias e
fantasiosas como
essa sobre a
transformação do MN
em palácio
imperial.
27/3/2021
Reitoria da UFRJ e
Direção do Museu
Nacional”
Orçamento para
reconstrução do
Museu é de R$ 379
milhões
Na reportagem do dia
23/3, a Folha
informa que o
palácio de São
Cristóvão teve suas
fachadas
preservadas, mas
telhado e interior
foram imensamente
atingidos com
incêndio que chocou
o país. De 37
coleções —nas áreas
de antropologia,
botânica,
entomologia,
geologia e
paleontologia,
invertebrados e
vertebrados—, 17
foram total ou
parcialmente
perdidas, 13 foram
ou estão sendo
resgatadas e sete
não foram atingidas
porque estavam em
outros prédios.
Mais de 10 mil peças
dos acervos foram
restauradas – o
crânio de Luzia, o
fóssil humano mais
antigo na América do
Sul, foi resgatado.
Em fevereiro, saiu o
vencedor de
licitação para o
desenvolvimento do
projeto de
arquitetura e
restauro.
O orçamento total da
reconstrução é de R$
379 milhões, e R$
244 milhões já foram
captados. Unesco,
Instituto Cultural
Vale, Bradesco e
BNDES apoiam o
projeto, que envolve
reforma e nova
museologia.
O Bradesco e o BNDES
firmaram aporte de
R$ 50 milhões cada
um.
A reinauguração do
bloco frontal do
Museu Nacional está
prevista para as
festividades do
bicentenário da
Independência no ano
que vem.
UFRJ aposta na
mobilização social
para reconstrução do
Museu Nacional
Para ampliar o
potencial de
captação de recursos
para a reconstrução
do Museu Nacional, a
Associação Amigos do
Museu Nacional (Samn)
está autorizada pela
UFRJ a buscar
patrocínios para o
restauro, obras e
projetos da
instituição
bicentenária. Os
patrocinadores,
inclusive, poderão
contar com
incentivos fiscais
para o apoio, de
acordo com as normas
e os procedimentos
da Secretaria
Especial de Cultura
do Ministério do
Turismo.
O
Projeto Museu
Nacional Vive
é resultado de uma
cooperação técnica
entre a UFRJ, a
Unesco e o Instituto
Cultural Vale. A
iniciativa aposta na
mobilização social e
na articulação
permanente de
parcerias com
instituições
públicas, privadas e
do terceiro setor
para reabrir o Museu
o mais breve
possível.
Até dezembro de
2020, o projeto
contava com o
patrocínio da Vale,
do BNDES, do
Ministério da
Educação (MEC), da
Bancada Federal do
Rio de Janeiro, da
Assembleia
Legislativa do
Estado do Rio de
Janeiro (Alerj) e
com apoios
governamentais de
países como Alemanha
e Áustria e órgãos
britânicos e dos
EUA. |