O físico Ricardo Galvão, ex-diretor do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais),
assumiu na terça-feira (17) a presidência do
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico) em uma cerimônia
marcada pela emoção e pelo anúncio da
recomposição integral do orçamento do FNDCT
(Fundo Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico), principal
instrumento público de financiamento da
ciência no país.
A escolha do pesquisador de 75 anos foi
celebrada em evento prestigiado por
diplomatas, reitores e pesquisadores como
Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC
(Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência), e Helena Nader, presidente da ABC
(Academia Brasileira de Ciências).
Em seu discurso, Galvão
fez vários
agradecimentos, incluindo um reconhecimento
ao trabalho dos servidores públicos, e
compartilhou uma reflexão sobre o
embate
com o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ocorrido
em 2019.
Em julho daquele ano,
lembra a
Folha de S. Paulo,
ao ser cobrado pela imprensa estrangeira
sobre os altos níveis de alertas
de desmatamento que vinham sendo registrados
pelo sistema Deter, do Inpe, Bolsonaro disse
que tinha "convicção" de que os dados eram
"mentirosos" e acusou Galvão de estar "a
serviço de alguma ONG".
O pesquisador reagiu imediatamente e, em
entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo,
criticou a atitude do então presidente,
que o exonerou duas semanas depois. O
monitoramento do Inpe, porém, continuou
mostrando, mês a mês, que o desmatamento da
Amazônia seguia sem freio.
Após o embate, Galvão como uma das dez
pessoas mais importantes para a ciência no
ano de 2019 e, em 2021, foi contemplado com
o prêmio internacional de Liberdade e
Responsabilidade Científica concedido pela
AAAS (Associação Americana para o Avanço da
Ciência).
"Será que após cerca de 50 anos de vida
profissional dedicada a dar o melhor de mim
para o crescimento da ciência no país eu
veria em meus últimos anos de atividade um
enorme retrocesso?", disse Galvão nesta
terça (17), lembrando o apoio que recebeu de
colegas e entidades e os pensamentos que o
afligiram após a exoneração.
"É claro que eu e outros colegas
pesquisadores não fomos arrastados pelas
ruas de nossas cidades. Estávamos sofrendo
não fisicamente, mas no âmago de nossas
almas devotadas à soberania da ciência
devido aos ataques perversamente
negacionistas de um governo tresloucado",
complementou.
Visivelmente emocionado, Galvão afirmou que
a truculência negacionista foi derrotada e
que a cerimônia e a nomeação da professora
Mercedes Bustamante para presidir a Capes
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior) provam que a ciência
brasileira sobreviveu.
"No dia de hoje, viramos essa página triste
da nossa história com a convicção de que a
ciência voltará a promover grandes avanços",
afirmou antes de encerrar com uma citação de
Guimarães Rosa: "O correr da vida embrulha
tudo. A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e depois
desinquieta. O que ela quer da gente é
coragem."
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