A Justiça Federal em
Brasília absolveu, na
quinta-feira (16), o
ex-ministro da Fazenda Guido
Mantega e o ex-presidente do
BNDES Luciano Coutinho na
ação penal relacionada à
Operação Bullish, aberta
pela Polícia Federal para
investigar supostas fraudes
para favorecer o grupo J&F.
O processo foi encerrado em
primeira instância por falta
de provas. "Não se encontra
nos autos prova alguma que
ampare a narrativa
ministerial", escreveu o
juiz Marcus Vinicius Reis
Bastos, da 12ª Vara Federal
Criminal do Distrito Federal
Luciano Coutinho, Guido
Mantega e seu filho Leonardo
foram denunciados
por formação de quadrilha,
corrupção, gestão
fraudulenta, prevaricação
financeira e lavagem de
dinheiro.
A
sentença
afirma
que “o Ministério Público
Federal sustenta a acusação
unicamente nas declarações
–
genéricas e vazias
–
do colaborador Joesley
Batista. O relato fornecido
pelo delator, como se teve
ocasião de afirmar, não se
presta a fundamentar
condenação penal", escreveu
o juiz.
Sobre as acusações contra
Luciano Coutinho, o juiz
discordou da alegação do
Ministério Público Federal (MPF)
de que o ex-presidente do
Banco deveria evitar
eventuais irregularidades:
“Agiu com deferência às
manifestações das áreas
técnicas do BNDES, que
intervieram em cada uma das
operações e em conjunto com
os demais diretores do
banco. Não é crível supor
que todos (responsáveis
pelas áreas técnicas e
diretoria do BNDES) tenham
adotado comportamento
dirigido à prática de
fraudes, com vistas a
beneficiar determinada
empresa. Os autos não contêm
prova alguma nesse sentido",
disse o juiz.
O advogado Aloísio Lacerda
Medeiros, que representa
Coutinho, diz que a decisão
“põe fim à injusta acusação
de que na gestão de Luciano
Coutinho na presidência do
BNDES existiria uma 'caixa
preta' voltada, inclusive,
para beneficiar o Grupo JBS
de Joesley Batista”.
Medeiros ressalta que “isso
foi fortemente sustentado
pelo ex-presidente Bolsonaro,
que durante seu governo
sempre sustentou essa
leviandade que hoje foi
amplamente desmascarada pela
irrepreensível sentença da
Justiça Federal do Distrito
Federal, que afastou todas
as absurdas imputações do
Ministério Público Federal".
O MPF acusou Guido Mantega
de supostamente influenciar
o então presidente do BNDES
a fazer operações
financeiras para favorecer a
JBS em troca de propinas. Ao
longo dos dois primeiros
mandatos do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT),
Mantega foi ministro do
Planejamento, da Fazenda e
também comandou o BNDES.
"Os atos que beneficiaram as
empresas do grupo JBS,
supostamente praticados
mediante o pagamento de
propina
–
fato, repita-se, em momento
algum provado nos autos
–
não tinham relação com a
função pública então
exercida por Guido Mantega.
Trataram-se de decisões
tomadas no âmbito do BNDES,
ausente qualquer
participação deste último
acusado", argumenta o
magistrado.
Em nota, a defesa de Mantega
declarou que a decisão
atestou a regularidade da
conduta do ex-ministro e
tornou descabidas as
acusações.
Chega ao fim o episódio mais
sombrio da história do BNDES

Com a absolvição de Coutinho
e Mantega, a diretoria da
AFBNDES destacou, esta
semana, o fim de uma
história sombria que marcou
de forma traumática a vida
benedense e lembrou da
condução coercitiva de
dezenas de empregados para
depor na Polícia Federal, em
2017, no âmbito da Operação
Bullish.
“Em 12
de maio de 2017, 37
empregados do BNDES foram
conduzidos coercitivamente
para depor na Polícia
Federal por conta da
Operação Bullish (confira a cobertura do VÍNCULO
1247, de 18/05/2017).
O evento provocou um trauma
na instituição. Em meio à
comoção generalizada no
BNDES no dia da operação, os
empregados se recusaram a
subir para suas estações de
trabalho e se aglomeraram no
térreo do prédio da Av.
Chile. A diretoria da
presidente Maria Sílvia,
então, conduziu os
empregados para o Teatro
Arino Ramos Ferreira (foto
acima).
Com o auditório lotado, a
diretoria atordoada não
sabia direito o que dizer
aos empregados. A revolta
foi expressa pela fala
enfática da AFBNDES,
aplaudida de pé pelos
empregados.
Em determinado momento, a
assembleia espontânea tomou
a decisão de sair do
auditório e voltar para a
entrada do prédio. Enquanto
os empregados se levantavam
de seus lugares acompanhando
a decisão de ir para o
térreo, o diretor jurídico
da época, representando a
opinião da diretoria do
Banco, gritava: "cuidado com
o Jornal Nacional!"
Também foi nesse dia que os
empregados empunharam seus
crachás em defesa do BNDES
numa foto histórica,
demostrando sua revolta e
sua indignação com a
demonstração do caráter
autoritário, demagógico,
irresponsável e antinacional
do aparato punitivo que
havia se estabelecido no
país.
A reação dos empregados
repercutiu nos principais
veículos de comunicação do
país e junto à opinião
pública qualificada. O BNDES
era uma instituição séria e
os empregados tinham orgulho
de fazer parte dela. O
Brasil precisava (e ainda
precisa) do BNDES! O Banco é
fundamental para que o país
se modernize e abandone de
uma vez por todas o estado
de pobreza e atraso que
nossas raízes históricas nos
legaram!
Seis anos depois do 12 de
maio de 2017, a Justiça se
pronunciou sobre as
denúncias do Ministério
Público e os únicos
denunciados na ação penal da
Operação Bullish foram
declarados inocentes [a
denúncia contra os
empregados do BNDES, por
falta de evidências mínimas,
não chegou a ser aceita]. O
ex-presidente Luciano
Coutinho e o ex-ministro
Guido Mantega foram
absolvidos taxativamente das
suspeitas infundadas que
justificaram o episódio mais
sombrio da história do
BNDES, mediante sentença que
julgou a ação penal
totalmente improcedente, por
falta de provas.
Vale registrar alguns
trechos da sentença que
denotam o viés autoritário e
persecutório da ação penal:
‘Encerrada a instrução
criminal, não se encontra
nos autos prova alguma que
ampare a narrativa
ministerial.’
‘Os fatos e alegações
precedentemente referidos
nada provam.’
‘Os autos não contêm prova
alguma nesse sentido.’
Confira também:
►
Nota de repúdio às ações
realizadas pela Polícia
Federal no âmbito da
Operação Bullish publicada
no VÍNCULO em 18/05/2017.
►
Carta aberta à Diretoria do
BNDES relacionada à condução
coercitiva (18/05/2017).
►
Editorial: O que precisa ser
dito em relação ao BNDES e à
operação da JBS
(25/05/2017).
►
Empregados reagem a novos
golpes contra a imagem do
BNDES – E cobram da
Diretoria a defesa forte e
contundente do corpo
funcional benedense e dos
critérios utilizados pela
instituição para cumprir seu
papel de fomentadora do
desenvolvimento nacional
(25/05/2017).
►
Um ano da condução
coercitiva no BNDES
(10/05/2018).
►
Episódio das conduções
coercitivas no BNDES
completa dois anos (STF
proíbe o seu uso para
determinar à força que um
investigado preste
depoimento durante o
andamento de uma
investigação) – 16/05/2019.
►
Sobrevivendo ao arbítrio e
às perseguições – Rejeitada
a denúncia do MPF contra
empregados e ex-empregados
do BNDES em processo
decorrente da Operação
Bullish. AFBNDES lidera
movimento em defesa do corpo
funcional (30/05/2019).
►
Vídeo produzido pela AFBNDES
sobre luta em defesa do
BNDES e sobre as conduções
coercitivas no âmbito da
Operação Bullish. |