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Edição nº1543 – sexta-feira, 19 de maio de 2023

Ibama nega pedido da Petrobras para explorar petróleo na foz do Amazonas

Companhia é orientada a recorrer da decisão pelo Ministério de Minas e Energia

O presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis), Rodrigo Agostinho, acompanhou parecer técnico do órgão e negou na quarta-feira (17) o pedido feito pela Petrobras para perfurar a bacia da foz do rio Amazonas com o objetivo de explorar petróleo na região.

A decisão, como informou a Folha de S. Paulo, foi tomada após o Ibama demonstrar preocupação com as atividades da petroleira em uma região de vulnerabilidade socioambiental.

"Não restam dúvidas de que foram oferecidas todas as oportunidades à Petrobras para sanar pontos críticos de seu projeto, mas que este ainda apresenta inconsistências preocupantes para a operação segura em nova fronteira exploratória de alta vulnerabilidade socioambiental", diz Agostinho no documento.

A perfuração inicial era alvo de pressão da Petrobras, do Ministério de Minas e Energia e até do líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Após o anúncio da negativa, o Observatório do Clima, rede de entidades voltadas à agenda climática, afirmou em nota que a decisão do Ibama protege um ecossistema virtualmente desconhecido e mantém a coerência do governo Lula.

"O presidente do Ibama agiu tecnicamente e de maneira correta, mas a decisão neste caso enseja um debate mais amplo sobre o papel do petróleo no futuro do país. O momento é de estabelecer um calendário para a eliminação dos combustíveis fósseis e acelerar a transição justa para os países exportadores de óleo, como o Brasil, e não de abrir uma nova fronteira de exploração", diz Suely Araújo, especialista-sênior em políticas públicas da entidade e ex-presidente do Ibama.

O Greenpeace Brasil também comemorou a decisão do Ibama: "Primeiro, por ressaltar a importância da proteção da Foz do Amazonas, local em que habita uma imensa diversidade biológica, como o Grande Sistema de Recifes da Amazônia, por exemplo, descoberto há poucos anos, que ainda há muito a ser estudado e catalogado pela ciência", afirmou Marcelo Laterman, porta-voz de oceanos da ONG.

"Segundo, por firmarmos o importante debate sobre o potencial brasileiro para uma transição energética justa, ao invés de insistir em mais uma fronteira exploratória de petróleo no contexto da crise climática. E, por fim, mostra que o Ibama ouviu a ciência e as vozes da sociedade civil, que no mês de abril se articularam para a entrega de um ofício assinado por mais de 80 organizações", completa, em nota.

Outra entidade que comemorou a decisão do Ibama foi a Associação dos Servidores da Área Ambiental Federal no Rio de Janeiro (Asibama/RJ): “Que decisão acertada! O presidente Rodrigo Agostinho e a ministra Marina Silva foram muito felizes! Não temos tempo a perder quando o assunto é a garantia do futuro do planeta para a sobrevivência da própria humanidade. Meio ambiente volta a ser prioridade. E o licenciamento ambiental é uma peça fundamental da equação que resulta no desenvolvimento sustentável. O Ibama voltou!”

Falta da Avaliação Ambiental

O Ibama apontou a falta da Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS). A Petrobras argumenta que o estudo não é obrigatório e que protocolou outros que demonstram a viabilidade do empreendimento.

Mas o parecer cita a ausência da AAAS como um importante obstáculo para a licença, uma vez que o potencial de impacto do empreendimento é grande e que a análise seria relevante por se tratar de uma nova frente de exploração dos recursos naturais brasileiros essa seria a primeira vez que tal atividade seria liberada na região.

O Ibama afirma que a região da bacia da foz do Amazonas é de extrema sensibilidade socioambiental por abrigar unidades de conservação, terras indígenas, mangues e grande biodiversidade marinha.

A exploração da foz do Amazonas era tida por ambientalistas como um dos empreendimentos de maior potencial de impacto no país atualmente, junto com o asfaltamento da BR-319 rodovia que corta a Amazônia e a Ferrogrão (projeto de ferrovia que tem como objetivo escoar a produção de grãos do Centro-Oeste por portos da região Norte).

Marina Silva

Na segunda-feira (15), durante seminário organizado pela Folha, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), disse que a decisão sobre o pedido da Petrobras para perfurar a foz do Amazonas dependeria de critérios técnicos que considerassem a sustentabilidade ambiental, social e econômica.

"É inegável que tenha altíssimo impacto ambiental, simbólico e político", disse a ministra sobre a exploração na região.

Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, também participou do evento organizado pela Folha.

Para ele, a questão que envolve a concessão da licença será central nas decisões do governo. “Nós já sabemos, por pareceres do próprio Ibama, que o risco de se explorar petróleo naquela área é altíssimo”, disse Astrini, que reforçou a importância de que a decisão do governo siga critérios técnicos e as análises previstas em lei para esse tipo de empreendimento.

O secretário-executivo do Observatório do Clima afirmou ainda que barrar a exploração de petróleo é uma oportunidade para que o Brasil “lidere pelo exemplo”, caminhando para a eliminação da exploração de combustíveis fósseis: “Não apenas na foz do Amazonas: também no Canadá, na França, na Alemanha, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar, não há mais espaço para exploração de petróleo no mundo. Precisamos enterrar a exploração de combustíveis fósseis se quisermos ter alguma possibilidade de equilíbrio climático no planeta”, disse.

Recurso da Petrobras

Ainda ontem (18), a Petrobras informou que iria recorrer da negativa do Ibama sobre a exploração de petróleo na foz do Amazonas. A companhia afirmou que ainda não foi notificada oficialmente pelo instituto, e que vai encaminhar o recurso sobre o processo de licenciamento ambiental do bloco FZA-M-59.

Nesta sexta-feira (19), a Petrobras informou que recebeu ofício do Ministério de Minas e Energia (MME) solicitando que a companhia, “dentro das suas regras de governança e, em observância à estrita legalidade, reitere o pleito de licenciamento da atividade junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), envidando todos os esforços necessários ao atendimento das condicionantes e comprovação da adequação do projeto para a prospecção segura e sustentável da área”.

Ainda segundo nota da Petrobras, “O MME ressalta que, além da importância estratégica da exploração sustentável da margem equatorial, tendo em vista os aspectos relacionados à segurança energética e manutenção da autossuficiência em petróleo do País, o assunto é fundamental do ponto de vista social, pois propõe-se a alavancar o desenvolvimento de alguns dos Estados com os menores IDH do País, por meio da arrecadação de participações governamentais e criação de emprego e renda para a sua população”

 

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