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Relato de viagem

Arthur Koblitz (*)

VÍNCULO 1351 – Na volta de viagem a Brasília, ontem à noite, encontrei dois políticos cariocas no ônibus do aeroporto Santos Dumont. Ambos de esquerda. Dois deputados federais. Os dois estavam conversando e os saudei. Introduzi o tema do BNDES. Afirmei que estava comprovado que o Ministério da Economia queria acabar com o Banco.

Parênteses: “Acabar” é vago, mas também é vago o que exatamente se quer fazer. Deve-se entender por “acabar” uma faixa de possíveis destinos ao BNDES que vão desde se tornar uma tímida agência de investimento até a sua completa extinção.

Voltando à conversa, um dos deputados reagiu com incredulidade, não por desconfiança do interlocutor, pelo menos assim me pareceu, mas pelo absurdo do que estava sendo afirmado. O outro reagiu com tédio, como se eu tivesse dito algo óbvio, de amplo conhecimento para pessoas bem informadas.

Talvez as reações dos dois políticos de visão ideológica não tão distantes sejam representativas das reações que se seguirão à leitura desse meu breve relato. Digo para todos vocês com todas as letras: o atual Ministério da Economia quer acabar com o BNDES.

Espero que quando esta edição do VÍNCULO chegue às suas mãos você já tenha assistido ao vídeo do deputado Pedro Paulo nos tranquilizando, afirmando que os líderes partidários discordam da inclusão na reforma da Previdência do item de eliminação das transferências constitucionais do FAT para o Banco. É significativa uma declaração tão forte de um político tão próximo ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

Mas está muito cedo para ficar tranquilo. Arma-se uma reação, liderada pelo Ministério da Economia, para garantir que a proposta da reforma sangre o BNDES em alguma medida. Está mais claro do que nunca. A polêmica criada pelas críticas do ministro Paulo Guedes à proposta do relator da reforma da Previdência, especificamente dirigida à inclusão do fim dos repasses do FAT para o BNDES e ao aumento da tributação dos bancos, deu a impressão de que tais ideias eram puro produto da criatividade e pró-atividade de deputados e do relator. Cortina de fumaça.

Depois de acompanhar o esforço de convencimento do relator, posso certificar a todos que o objetivo da proposta não é o de aumentar recursos para a Previ-dência. Seu objetivo principal é fazer sangrar o BNDES. Tal proposta não é o resultado de um compromisso com o número mágico de 1 trilhão de reais defendido pelo ministro da Economia (que não faz sentido ser perseguido com a queda da proposta de capitalização).

Posso garantir que o governo e o relator não estão preocupados com as contas públicas. Não estão interessados, por exemplo, com o impacto do fim dos repasses ou sua redução para o seguro-desemprego. Não querem discutir, convencer ou contestar ninguém nessa área. Os pragmáticos do governo querem angariar votos para a reforma da Previdência surfando nos “haters” do BNDES no Congresso Nacional

O relator não abre mão de fazer o BNDES pagar. O Banco tem que ser punido “depois de tudo” (me falou um assessor). Tudo o quê? Perguntei. Apontam para a CPI. A mesma tática foi usada na mudança para a TLP. Os supostos crimes do BNDES fundamentam sua vilipendiação e seu desmonte.

O país está no quinto ano de ruína e conspira-se para destruir o mecanismo mais importante que o próprio governo dispõe para estimular o investimento.

Qual a diferença mesmo entre a ala ideológica e a liberal do governo? Ora, as duas são extremamente ideológicas. Ambas chegam ao ponto do fanatismo. Acabar com o BNDES em nome da conspiração do “Foro de São Paulo” ou acabar com o BNDES em nome de von Mises são loucuras. Difícil apontar a mais irreversível.

A defesa do Banco passa, mais do que nunca, por nossa mobilização. Pela disputa da opinião pública. Se eles estivessem tão certos de que os brasileiros querem liquidar com seu Banco de Desenvolvimento, não agiriam nas sombras como fazem. A covardia do ataque é sinal da falta de apoio que têm. Chamemos a luz, mostremos nossas realizações. Podemos mais, vamos fazer mais, porém temos muito o que expor.

E eles? O que eles têm a apresentar? O que esses economistas ligados ao oligopólio financeiro brasileiro construíram ao longo dos últimos trinta anos em que tiveram ampla hegemonia? Quantos investimentos no Brasil foram movidos com base em seus desembolsos?

Trava-se em torno do BNDES uma das batalhas mais importantes para o futuro do Brasil.

Meus colegas benedenses, não tentem ignorar esse fato, para ficar mais fácil não assumir responsabilidade.

(*) Vice-presidente da AFBNDES.

Associação dos
Funcionários do BNDES

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