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Brasil: crise política, econômica e sanitária

VÍNCULO 1389 – Crise política

O presidente da República, Jair Bolsonaro, acabou com qualquer subterfúgio, qualquer preocupação em esconder sua defesa de um caminho autoritário para o país. Sua presença nas manifestações explicitamente golpistas e defensoras do AI-5, no domingo passado, não deixa qualquer dúvida racional a respeito. Excluindo os que vivem em estado de absoluta desinformação, os que decidirem continuar apoiando o presidente estarão deixando claro que não possuem qualquer compromisso com a democracia.  

Se isso não bastasse, as denúncias feitas pelo ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, sobre as tentativas de interferência do presidente na Polícia Federal confirmam que, da parte do presidente Bolsonaro, não há também qualquer compromisso republicano, qualquer compromisso com o respeito às instituições. Suas justificativas no pronunciamento feito em resposta a Moro são completamente não convincentes. Desrespeitam a inteligência do povo brasileiro. Entre os vários argumentos que poderiam ser levantados, talvez o mais escandaloso seja a assumida insistência em interferir na instituição que notoriamente investiga membros da sua família. Claro, a interferência seria indevida mesmo sem esse agravante da família investigada, como lembrou o ex-ministro.

Pequeno parêntese para registro dessa extraordinária sexta-feira. Testemunhamos dois depoimentos inimagináveis há uma semana. Moro, talvez o principal algoz do petismo, para apontar a gravidade das tentativas de interferência de Bolsonaro na PF, usou o comportamento dos ex-presidentes petistas como exemplo de conduta. Bolsonaro, por sua vez, confirmou que Moro barganhava seus posicionamentos pela promessa de indicação ao Supremo Tribunal Federal (STF). Não há dúvida que a repercussão dessas declarações terá efeito tsunâmico na opinião pública e é prenúncio do tamanho da crise política que foi aberta.

Em meio a toda essa crise, a   AFBNDES não poderia deixar de se posicionar.

Na véspera do segundo turno da última eleição presidencial, o editorial do VÍNCULO (“Em defesa do debate e da democracia”, de 25/10/2018) concluía assim:

“A AFBNDES também tem uma atuação fora do espaço do BNDES como instituição da sociedade civil brasileira. Estivemos presentes na luta pelas Diretas Já! nos anos 80. Temos orgulho de dirigirmos uma entidade que lutou pela democracia, e pretendemos honrar essa tradição. Estaremos ao lado dos que entendem que não há futuro sem democracia, pois não há mal no nosso regime político que justifique abrirmos mão do que conquistamos a duras penas”.

Em resumo: em defesa da democracia brasileira, em defesa da saúde e da vida dos brasileiros ameaçadas pela pandemia do novo coronavírus, entendemos que  Jair Bolsonaro não tem mais condições de continuar na Presidência da República.  

A renúncia ou um desgastante processo de impedimento parece inevitável. Não faltam crimes de responsabilidade para justificar o segundo caminho.

Crise econômica

A desastrada condução do ministro Paulo Guedes à frente do Ministério da Economia se tornou um consenso. Não há mais ninguém em sua defesa fora do âmbito da sua hierarquia. A movimentação militar em prol do Programa Pró-Brasil  é uma sinalização do desgaste mesmo entre membros do governo com as limitações do ministro. O BNDES deveria estar envolvido nessas discussões. Deveria ser capaz de dar substância à intuição, ou instinto de sobrevivência social, que o anúncio do programa revela.

Infelizmente, é difícil acreditar que o presidente do Banco, tão leal, e mesmo submisso, ao presidente e ao ministro Guedes tenha capacidade de exercer essa função.

A tímida atuação, até agora,  do BNDES no combate à crise, felizmente, tem sido amplamente sentida. É, portanto, de se esperar que diante de uma nova diretoria, menos comprometida com a orientação ultraliberal atual, possamos cumprir o papel que é nosso. Talvez a boa notícia nesse quadro desalentador seja que essa estratégia  deliberada de não utilizar o BNDES com todo o seu potencial em resposta à crise poderá ajudar a deixar clara, definitivamente, a importância do BNDES para o país.

Como afirmamos diversas vezes aqui, essa diretoria hostil ao BNDES vai passar e a instituição continuará. Parabéns aos que se mantiveram fiéis à instituição.

Crise sanitária

A eventual queda do atual presidente da República e uma mudança na orientação da política econômica – se forem alcançadas –, serão a um alto custo: evitáveis mortes e destruição da economia. Dos problemas crônicos de subnotificação e falta de testes, incluindo a desorganização institucional e a propagação da ignorância por parte do governo federal sobre o impacto do novo coronavírus, passando pelo atraso e equivocada resposta governamental na economia (inclusive a subutilização do BNDES), e chegando aos problemas estruturais brasileiros (nossa abissal desigualdade social) – tudo indica que a tragédia brasileira vai se destacar dentro de um cenário internacional sombrio.

Preparemos nossos corações e mentes como for possível. Nossa tarefa – como brasileiros e benedenses – é trabalhar ao máximo para que as vítimas dessa tragédia não tenham sido em vão. É momento de enterrar ilusões, de fazer autocrítica, de ser ousado (pensar amplamente e profundamente no mundo pós-pandemia) e mostrar o que o BNDES pode fazer pelo Brasil.

Associação dos
Funcionários do BNDES

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