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Seguindo a Receita, por Paulo Moreira Franco

Paulo Moreira Franco –
Economista aposentado do BNDES

Começa de servir outros sete anos
dizendo: “Mais servira se não fora
para tão longo amor tão curta a vida!”
(Camões)


VÍNCULO 1556 – Domingo. Vou dormir tranquilo, com o Botafogo, esta versão futebolística de um desfile campeão da Imperatriz, na liderança inconteste do Brasileirão. Começo mentalmente a escrever um artigo para sair entre dois aniversários, um artigo onde vou tratar de uns drinks de minha invenção e algumas histórias ligadas a eles.

Acordo em choque na segunda. Quando você começa a pensar que existe a possibilidade de as coisas poderem um dia começar a fazer sentido, ganhar algum tipo de sanidade, você se depara com algo saído diretamente de um universo paralelo onde Velozes e Furiosos é um documentário.

Acordo com Javier Milei como favorito da futura eleição. Escrevo para uma inteligente amiga que viveu muito tempo em Buenos Aires. Ela me diz que “estamos entre a extrema direita, a DIREITA filha da puta e a direita peronista”. E saiu detonando a Bullrich, o nome “normal” da direita argentina que concorrerá contra o Wolverine Reaça e mais uma versão calça-arriada do peronismo.

O que é Milei? Um experimento tipo Os meninos do Brasil no qual um cruzamento de Ayn Rand e Elvis Presley foi criado por magos olavistas portenhos? Um episódio perdido de Porta dos Fundos que se tornou realidade. A arte ganhando o mundo como acontece em alguns filmes em que a barreira entre a tela e o mundo real se rompe, numa trama tipo um pen drive do Duvivier que caiu dentro de uma jarra de ayahuasca? Guga Chacra servindo de cavalo (ou seria Cavallo) para o mesmo espírito furioso que possuiu Sachsida, algum Doutor Fritz economista 110% austríaco que trabalhou na mesma repartição que aquele (para ele) comunista, o Mises? Será ele um nelorean candidate, um agente plantado pelo agronegócio brasileiro de forma que a Argentina rompa com a China e nós assumamos definitivamente a hegemonia da proteína chinesa? Será algo descontroladamente Novo, uma zemulação (o ato de emular o Zema) exagerada?

Ao mesmo tempo segunda trouxe mais um ridículo processo contra Trump. Há, pelo visto, um desejo desesperado das elites americanas de que em 2025 haja uma profunda empatia entre o presidente americano e o brasileiro. Imaginem Trump e Lula discutindo suas experiências de prisão por lawfare, contemplando suas belas esposas conversando, ambos representando o lado vermelho do país. Surreal?

Não. Surreal será se por acaso RFK JR vier a ganhar as primárias democratas. Pode ser uma solução: Trump e RFK Jr no primeiro debate televisado, um terrorista checheno, dois coelhos numa só cajadada!

Como falei semana retrasada, Trump se eleito entrará abençoado para uma fatwa contra o Estado Administrativo e o Deep State. Bem, o último abençoado a entrar prometeu acabar com Guantanamo…

Mas mesmo nós não escapamos desse descontrole da Sociedade do Espetáculo, que com a greve dos roteiristas em Roliúde deve estar afetando as ações da CIA pelo mundo afora.  Pois aqui a novela Mauro Cid, o golpe que teria sido e as joias da presidência, segue firme e forte. Reparem que a acusação que é feita a Jair não é de corrupção. Corrupção é um daqueles atos que envolvem mais que uma parte, e é uma acusação que com a Lava Jato ficou meio desmoralizada. Jair Ebaysonaro pegou um patrimônio público da presidência e vendeu como se fosse dele. Quer dizer: mandou seu cuidador vender. Isso cai em categorias mais claras de vilania. E que se restringem a ele, sem danos colaterais.

Já a novela Delgatti, o ararahacker, segue no Congresso. De um lado, a indigência ao vivo e a cores dos frutos do bolsonarismo no nosso Senado. De outro, lacradores de esquerda, todos felizes com mais uma história do vilão Bolsonaro. Coisa, sobre o que, sinceramente, não tenho muito a dizer pois não acredito em reality shows, não sinto nenhuma alegria numa trama pequena, feita para nos enganar sobre o que foi feito, o que não foi desfeito e o que deveria ser feito.

O que foi feito? Um grupo dentro de uma instituição pública baseada na hierarquia, o Exército, atuou para colocar um colega seu, um dropout da carreira militar que foi para a política, na presidência. É claríssimo isso, mas encarar o que aconteceu, e ao menos tomar as providências administrativas relacionadas ao episódio de turismo de baderna ocorrido em 8 de janeiro, é coisa que as cliques do governo com boa convivência com as forças armadas não fizeram e não farão. Exemplo do que deveria ser feito: no mínimo, todos os que comandavam quartéis diante dos quais acampamentos aconteceram deveriam ser destituídos de qualquer posto que ocupem hoje e direcionados ao pijama, a menos que apresentem algum documento comprovando que receberam ordens superiores para não coibir esse tipo de desordem.

O que não foi desfeito? Eletrobrás. Copel. Campos Neto. Ah, estou sendo injusto: o governo desfez a política de publicidade do governo Bolsonaro e voltou a dar dinheiro para a Globo atacar o governo.

O que deveria ser feito? Boa pergunta. Que tal um drink? Num momento em que retorna a Covid, em que esta matou um dos nossos maiores cientistas sociais, o imortal José Murilo de Carvalho, autor de Os Bestializados, nada como a inspiração de um ministro da Saúde celebrado pelo voto popular como seu representante na Câmara. Portanto, em homenagem aos dois aniversários, à bela e brilhante colega que antecedeu a esta sexta em que publico; e ao genial primo, artista das panelas, que visitarei no sábado no Rio Gastronomia, apresento, a CLOROQUINA:

Num recipiente em que caiba com conforto um volume de um terço de litro você irá misturar os seguintes ingredientes

– 60 ml de absinto. Que seja bem verde (acho que um Neto Costa, por exemplo, talvez seja claro demais). Não use de nenhuma fada verde de 70% ou mais – guarde isso para seus torrões de açúcar em rituais bem encenados. Essa bebida, em si, é uma homenagem ao governo que teve a gloriosa missão de enfrentar a pandemia. “Ab” remete ao cérebro que foi usado em Jovem Frankenstein; e “sinto”, à expressão “sinto muito”, daquele que foi nosso presidente por ininterruptos quatro anos.

– 40 ml de xarope de pepino Monin. Esse é definitivamente o item mais difícil de se achar. Antes desse drink eu usava um pouquinho desse xarope com água com gás, uma combinação que fica interessante. Pepino costuma ir bem em gin tônicas, especialmente se você for fazer uma bem esnobe com Hendricks, que tem pepino entre seus botanicals. Mas rodelinha de pepino japonês vai bem com qualquer London Dry sem muita informação.

– 20 ml de curaçau azul. Além de dar aquela arredondada que o triple sec sempre dá nos drinks, o curaçau transformará a cor num interessante verde jade. Lembre-se, nada para fazer esse novo comunavirus chinês tremer nas bases do que encarar os milênios de história do jade imperial.

– 200 ml de água tônica, a mais amarga que conseguir. Lembre-se, cloroQUINA. Qual seja, leva quinino.

Misture bem, sem sacudir para não perder o gás. Sirva três doses em copos de martini. Sim, são duas doses e mais uma de booster. Pode ser tomado uma de cada vez, pode ser dividido com mais pessoas na esperança de que novas doses cheguem do Butantan.

– Acrescente em cada copo que servir um picles de pepino, dos menores que houver no frasco, com não mais que eduardianas duas polegadas. O picles, na sua cor oliva, boiando naquele líquido de cor tão intensa, refulgente, remete à imagem de um jovem capitão fardado pulando nas águas da Baía de Guanabara, ali em Ramos nos 80, camuflado entre os demais sólidos.

E voilá, a Cloroquina!

Associação dos
Funcionários do BNDES

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