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A missão dos benedenses é desenvolver o Brasil

Marco Aurélio C. Pinto – Engenheiro no BNDES e professor da UFF.

Vínculo 1348 – A situação do BNDES é grave, muito grave. Há grupos organizados, respaldados pelas urnas, que afirmam como erro boa parte do que foi realizado no passado recente. A comunidade financeira defende hegemonicamente que o BNDES seja extinto após devolução de recursos ao Tesouro; liquidado após negociação da carteira da BNDESpar. Algo sobreviverá, porém não mais que autarquia para assessoria financeira com eficientes e competentes 400 funcionários. Este futuro pode, contudo, ser adiado ou acelerado. Quem detêm este comando, em parte, somos nós, funcionários da instituição.

Assistimos nos últimos anos clientes tradicionais do BNDES consumindo progressivamente mais serviços de bancos privados com emissões de títulos de longo prazo em mercados de capitais. Neste contexto foram extintos os incentivos em Reais para o investimento de longo prazo (TJLP), os quais ainda permitiam ao BNDES manter relacionamento com as grandes firmas atuantes no Brasil.

Boa parte das competências adquiridas no passado foi empregada na gestão de relacionamento com grandes empresas, desde o perfil dos executivos até processos e produtos. Há algum tempo se aguarda na casa mudança organizacional que responda às estratégias de apoio a infraestrutura, pequenas e médias empresas e entes subnacionais, explicitadas pela Alta Administração como prioridades. Mudança que rompa com a anterior política de compadrio, que se enraizou após anos de duração do ciclo político. E só a Diretoria possui o mandato para isso.

Sinto-me como se estivesse sentado no banco de trás de um ônibus em que há muita gente em pé, o ônibus está cheio. O motorista está sem saber para onde ir e, pelo alto-falante, pergunta por direções. Muitos falam ao mesmo tempo e o ônibus está indo rapidamente para o abismo. O motorista é um bom piloto, mas os que estão lá na frente, perto dele, não conhecem esse caminho. Há um coro de gente com propostas, vindo de algum lugar, mas o motorista não as escuta, todos falam ao mesmo tempo.

O presente artigo procura analisar brevemente algumas posições explicitadas internamente nas últimas semanas e discutir a importância dos colegas se engajarem com urgência na luta pela sobrevivência da instituição. Desde já se adianta que não se trata de qualquer embate político, mas clamor por pragmatismo diante de um Banco que precisa encontrar o seu caminho.

Somos servidores públicos e, como tal, temos por missão trabalhar com afinco para governos eleitos democraticamente. As prioridades explicitadas pelo governo para o BNDES são a estruturação de projetos privados de infraestrutura, apoio aos entes subnacionais e às médias empresas. Estes são os caminhos pelos quais temos que trabalhar. Há urgência em diferentes frentes. Temos que iniciar em larga escala o apoio direto automático. Temos que estar à frente dos grandes problemas do país (transporte rodoviário de carga, acidentes naturais etc.), com soluções de investimento. Compreendidas as prioridades, deve prevalecer a pressa no apoio aos entes subnacionais, na aplicação dos fundos não reembolsáveis, na articulação com Brasília.

Temos que ter pressa e urgência porque, do jeito que vai, não teremos muito tempo.

Não obstante, o BNDES possui hoje Conselho de Administração com composição hostil. Atrapalhar a atual gestão não me parece o mais sábio. Ao contrário, me parece o caminho mais perigoso para nossa autoaniquilação.

E há diferentes formas de se colocar contra a atual gestão. Interessam aqui particularmente aquelas que implicam diretamente sobre o fluxo operacional futuro do BNDES. Nesse contexto, surgem ao menos três grupos com certo grau de influência (falam alto e ao mesmo tempo no ônibus), denominados a seguir como Grupo da IlusãoGrupo da Mobilização e Grupo dos Donos do BNDES.

No Grupo da Ilusão observa-se conjunto significativo de colegas que continuam a viver suas vidas como se nada estivesse acontecendo. Moram bem, seus filhos frequentam escolas moderninhas, convivem em clubes e shoppings, conhecem vinho e viajam para o exterior. No trabalho os meios importam muito mais do que os fins, reproduzindo-se comportamentos conservadores, passivos, burocráticos. Consomem-se em reuniões internas com discussões pouco criativas, objetivas ou finalistas, porque foi assim que aprenderam com seus superiores e antecessores. Quem não faz não erra, quem não erra é promovido.

No Grupo da Mobilização encontram-se as viúvas da gestão PT, período em que foram de fato prestigiadas, todos nós o fomos. O BNDES viveu entre 2003 e 2016 um dos períodos mais importantes da sua história. Como não ter saudade deste tempo, quando desde os mais politizados até os mais alienados colegas do Grupo da Ilusão, todos fomos envolvidos em projetos? Só que o Grupo da Mobilização não parece aceitar que a sociedade brasileira escolheu nas urnas destino diverso daquele de sua preferência. Trabalhar contra estas escolhas pode ser um dos erros mais sedutores que um servidor público pode vir a experimentar.

Os dois grupos de colegas até aqui discutidos compreendem a maior parte do BNDES. São pessoas do bem, íntegras, corretas. Que cumprem o que lhes pedem com responsabilidade e zelo. Mas que não reúnem, muitas vezes, as competências necessárias ao binômio formulação-atuação, o qual parece crucial para ajudar o motorista a manobrar e nos tirar da rota do abismo.

No terceiro grupo reúnem-se colegas experientes que, ao longo dos governos do PT, acumularam condições políticas para ocupar, com pessoas de sua estrita confiança e alinhamento, postos-chave na instituição. Este grupo e suas ramificações não souberam negociar com visões distintas das suas e alijaram muitos colegas do processo decisório relevante. Com a inflexão do papel do BNDES durante o governo Temer, este pequeno grupo passou a reunir, de fato, “os donos” do BNDES. Considera-se inevitável, se uma mudança organizacional profunda não for concebida e implementada, que este grupo volte brevemente a se apropriar do comando da instituição. E provavelmente repetirá os erros que nos trouxeram até aqui.

Há finalmente um quarto grupo também minoritário, que pode reunir competências potencialmente úteis neste momento. No Grupo dos Estoicos encontram-se colegas que percebem a urgência em exercer o potencial transformador do BNDES sobre a realidade brasileira. São colegas com maturidade na leitura da dinâmica organizacional, comprometidos com trabalho de boa qualidade, influenciadores frequentemente titulados. Colegas dos grupos anteriormente descritos se sentem usualmente ameaçados pelos membros do Grupo dos Estoicos. Por esta razão, e não por outras, muitos dessesestão neste momento sentados no fundo do ônibus.

De uma maneira ou de outra, o tempo se esgota. E o ônibus parece acelerar de encontro ao abismo. Perde a atual Alta Administração e perdem aqueles que não estarão em condições de escolher quem será e quem não será demitido quando e se a hora chegar.

Associação dos
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