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O que nos une?

Haroldo Cella – Empregado do BNDES. Este artigo expressa exclusivamente a opinião pessoal do autor sobre o assunto

Vínculo 1274 – Após mais de seis décadas exercendo, longe dos holofotes da mídia, o seu relevante papel de principal instrumento do Estado em prol do desenvolvimento do Brasil, o BNDES se viu, nos últimos anos, ocupando lugar de destaque no noticiário nacional, mas, infelizmente, tendo sua atuação associada mais a escândalos de corrupção do que à sua inegável contribuição para o desenvolvimento do país.

Dessa forma, execrado pela maior parte da grande mídia e “virado do avesso” pelos órgãos de controle, o então ainda maior Banco de fomento do mundo se viu forçado a redefinir seu tamanho e seu papel no Estado brasileiro, tendo como principal desafio justamente provar à sociedade que é um órgão de Estado a serviço do Brasil e não um mero instrumento político na mão de governos, corruptos ou não.

Nesse contexto, numa iniciativa totalmente inédita, a Diretoria do BNDES decidiu fazer internamente algo que, até então, parecia restrito ao universo acadêmico e das empresas de tecnologia: uma “feira” de ideias, com foco em inovação e no futuro da instituição.

Durante algumas semanas uma boa parte do corpo funcional se viu envolvida na discussão e elaboração de ideias e projetos futurísticos inovadores para o BNDES. Na fase final, onde, com participação da maioria do corpo funcional, foram escolhidas as dez melhores ideias, ficou claro que, do ponto de vista dos “benedenses”, o Banco realmente precisa se reinventar e modificar radicalmente, não apenas sua forma de atuar (passando a fazer uso muito mais intensivo de recursos tecnológicos), como também e principalmente seu modo de se comunicar e prestar contas para a sociedade (a ideia vencedora foi justamente a criação de uma “Área de Comunicação e Marketing”).

Mas antes dessa “feira” acontecer, outra iniciativa, também inédita, surpreendeu o corpo funcional, quando todos fomos convocados a parar, por algumas horas, no meio do expediente, para responder à seguinte pergunta: o que nos une?

Essa espécie de brainstorm corporativo, mais do que proporcionar resultados concretos, colocou em evidência a profunda crise de identidade por que passa o BNDES, num momento em que também o Brasil parece não saber que rumo tomar.

Assim, em meio a elucubrações acerca do futuro, tanto do BNDES como do Brasil, me vi fazendo a mim mesmo, não mais na condição de benedense, mas de brasileiro, a mesma provocante pergunta: o que nos une (como Nação)?

Foi então que percebi que se essa pergunta fosse feita hoje a todo o povo brasileiro, revelaria mais do que uma crise de identidade, mas talvez mesmo a completa ausência de uma verdadeira identidade a nível nacional.

Tal crise ou ausência de identidade não impediria, como não tem impedido, a existência do Estado brasileiro, dado que, como todos sabem, para um Estado existir basta um povo habitando um território com algum sistema de governo.

Contudo, quando se trata de reconhecer até que ponto ainda somos uma nação, corremos o risco de termos que admitir que nos falta, há algum tempo, o sentimento de unidade em torno de algo que possamos chamar de identidade nacional, no nosso caso, também chamada de brasilidade.

A nossa brasilidade poderia ser academicamente defendida como algo que, de forma semelhante ao que ocorre em outras nações, foi historicamente construído como um processo social, cultural e político, consolidado não somente através da unidade em torno da língua, costumes, religião e tradições comuns, mas também através de símbolos nacionais (bandeira, hino, heróis nacionais etc.).

Todavia, dadas as nossas dimensões “continentais” e a heterogeneidade de nossa cultura, percebeuse que, no nosso caso, algo como uma identidade nacional teria muito mais relação com a nossa diversidade cultural e social do que com alguns elementos que pudessem ser considerados comuns a todos os brasileiros.

Desse modo, não obstante muitos ainda repetirem o falso “clichê” de que somos uma nação “unida” em torno do samba, da caipirinha, da feijoada e do futebol, formou-se o consenso de que nossa identidade, ou seja, o que nos une, seria justamente o fato de aceitarmos e convivermos bem com nossas diferenças não somente culturais, mas também religiosas, sociais, étnicas etc.

Entretanto, nos últimos anos, o crescimento avassalador de uma cultura de corrupção em diversos níveis e a escalada dos crimes e da violência, tanto no campo como nas cidades, têm atuado como fatores de desagregação, provocando aos poucos o esfacelamento do sentimento de brasilidade, nos transformando em um povo dividido entre aqueles que ainda acreditam e defendem a legalidade, a ética e a honestidade como princípios de vida e de cidadania, aqueles que decidiram viver uma legalidade e honestidade apenas de fachada, agindo eventualmente à margem da Lei e seguindo de fato a “lei de Gérson” (“É preciso levar vantagem em tudo, certo?”) e aqueles que decidiram levar uma vida abertamente dedicada ao crime.

Além disso, depois das últimas eleições presidenciais e do impeachment que se seguiu, ficou evidente que somos atualmente um povo dividido também em termos ideológicos, com crescentes manifestações de intolerância e hostilidade em relação aos que pensam de forma diferente, ainda que os dois lados se definam como sendo igualmente “contra a corrupção” e “a favor do Brasil”.

Assim, se a nossa identidade nacional não é mais baseada na diversidade e capacidade de convivermos bem com nossas diferenças, vale insistir na pergunta: o que nos une (ainda)?

Da mesma forma que, no BNDES, a tentativa de responder a esta pergunta motivou-nos a juntar forças para tentarmos redefinir o nosso papel e podermos, assim, reconstruir a nossa história, penso que se nós, brasileiros, nos esforçarmos para tentar responder a mesma pergunta, no que se refere à nossa Pátria Brasil, talvez também consigamos encontrar um caminho comum, que nos permita a reconstrução da nossa identidade nacional e, junto com ela, da nossa própria Nação brasileira.

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