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A esfinge

Celso Evaristo Silva – Empregado do BNDES e 2º vice-presidente da AFBNDES

Vínculo 1385 – Assim como furacões de categoria 5 viram, com frequência, uma tempestade tropical, a pandemia atual pode ter efeitos menos deletérios à humanidade do que promete hoje.  Ainda assim, o estrago será grande; dificilmente escaparemos dos milhões de mortos e de uma depressão econômica global.

O projeto neoliberal, que já fazia muita água, naufragou e, com ele, os principais preceitos norteadores dessa linha de pensamento econômico dominante em escala mundial desde a era Reagan/Thatcher. Um desses preceitos, o do Estado mínimo, mostrou-se, com a pandemia atual, uma distopia desastrosa e inviável sob qualquer aspecto: político, econômico, militar, cultural, sanitário, educacional etc., justo quando mais precisamos do Estado e de seus agentes públicos.

A desregulamentação da economia, em especial, do mercado financeiro com suas bolhas especulativas, caducou. Em tempos de pandemia, a volatilidade do mercado especulativo manifesta na explosão de bolhas, no pânico das bolsas e na instabilidade do crédito é fator de agravamento exponencial da crise, na medida em que ocorre a aglutinação de vetores epidemiológicos com econômicos. A globalização é um período de crescimento da produção e do comércio mundiais. Mas a riqueza concentrou-se num pequeno grupo de países e isso reforça a desigualdade entre as nações.  A desigualdade ampliou-se, inclusive em muitos países centrais do sistema capitalista.

O tema do socialismo volta à baila desligado do culto do Estado Todo Poderoso. Se a estatolatria deve ser superada, o culto ao mercado livre leve e solto, idem. Nesse ponto, as instituições democráticas serão chamadas a passar por profundas transformações, visando sua adaptação institucional à nova situação do mundo. Dois aspectos merecem atenção: o primeiro – a combinação entre a força criativa da economia privada e o papel do Estado enquanto elemento regulador das regras do processo produtivo, investidor seletivo e principal, bem como, provedor das demandas sociais, via políticas públicas voltadas para a saúde preventiva, a educação de qualidade, o transporte de massas e a segurança com respeito aos direitos fundamentais do ser humano. O segundo aspecto prende-se à criação de mecanismos democráticos mais complexos e que devem ir além do mero formalismo de eleições e manifestações esporádicas (sem desmerecer esses elementos da vida democrática).

A onda reacionária espraiada mundo afora não apresenta nenhum caminho que não seja o da implantação da barbárie. Não por acaso, grupos neofascistas, fundamentalismos religiosos e anticientíficos ganham espaço de comunicação na internet e de ação política nas ruas. Eles dependem da alienação, do medo e da desilusão das massas para progredir em meio ao caos que cultivam. O coronavírus é seu aliado não confesso.

Países, como o Brasil, que têm promovido o desmonte de empresas estatais e demonizado as instituições públicas, ao se depararem com pandemias e outras tragédias em grande escala, encontram-se em situação de extrema vulnerabilidade; não conseguem dar respostas articuladas, abrangentes e estruturadas para problemas sociais que só o aparelho de Estado é capaz. Não é da natureza da iniciativa privada ir muito além dos seus interesses econômicos mais imediatos.

As conquistas da civilização nos últimos séculos podem dissolver-se no ar como fumaça diante da atual crise mais rapidamente do que poderíamos supor anos e até meses atrás. O mundo pós Covid-19 será algo bem diferente; melhor ou pior…? Em aberto: a depender das escolhas políticas e econômicas a serem feitas. Os papeis do Estado e da iniciativa privada, daqui para frente, estarão diante de nós como uma esfinge com duas cabeças para deciframos ou sermos devorados.

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