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A demonização da política nos faz idiotas…?

Celso Evaristo Silva – Empregados do BNDES

Vínculo 1281 – Na Grécia Antiga, a vida pública interessava a todos os cidadãos; era o que protagonizava sua existência. Eram assim chamados de politikos: os que se dedicavam ao governo da polis (“a cidade” ou “Estado”), colocando o bem comum acima de seus interesses individuais. Participar das decisões coletivas na agora (praça pública) era honroso e imperativo para todo cidadão livre – estrangeiros ou metecos, mulheres e escravos não podiam participar, pois não eram considerados cidadãos na sua plenitude. Nem tudo era ou é perfeito…

Por outro lado, idiotes era aquela pessoa que só se preocupava com seus interesses particulares. A palavra deriva, no grego antigo, de idios, “pessoal, privado”. Idiota queria dizer “indivíduo privado”, no sentido pejorativo daquele sujeito que não exercia nenhuma atividade pública; por conseguinte, não ia às assembleias populares debater, tomar decisões, eleger e ser eleito para funções públicas. Preocupava-se tão somente consigo e os seus afazeres imediatos.

Com passar do tempo, o sentido das palavras se alterou. ‘Política’ assumiu conotação de atividade envolvendo pérfido jogo de interesses, fruto de práticas inconfessáveis; enquanto ‘idiota’ recebeu conteúdo pejorativo ainda maior de tolo, pouco instruído, vulgar.

Estamos todos, mais ou menos, desiludidos com a política. Há uma descrença generalizada nos políticos e partidos. Cada vez mais, uma parcela maior da população se sente impotente e distante das decisões políticas. Política tem se tornado sinônimo de crime e de chatice. O fenômeno é mundial. As razões existem, é claro, e precisam ser reconhecidas. Mandatos viraram moeda de troca, a atuação das bancadas não se pauta pelos programas partidários (quando eles existem ou querem dizer alguma coisa); de fato, há mais identidade entre os políticos de cada uma das bancadas que bancaram sua eleição – ruralista, evangélica, das armas, dos bancos etc. – do que com suas siglas e ideologias partidárias. Uma ou outra agremiação partidária ainda mantém certa coerência ideológica e espírito público em sua atuação no Congresso.

A questão é que nos esquecemos que a política é uma dimensão inerente à condição humana. Não há humanidade sem política. Não há forma de experimentar a vida humana excluindo-se as categorias próprias da política. O jogo de interesses vai do individual ao coletivo. A pergunta essencial a ser feita é: a quem interessa o discurso, a narrativa da antipolítica?

Fazemos política no condomínio em que moramos, no papel do síndico que coordena a vida comunitária do espaço, membro do conselho fiscal ou morador cricri que reclama até da cor das plantas ornamentais da portaria do prédio. Fazemos política na religião, empreendendo um diálogo respeitoso, ecumênico, entre diferentes princípios ou tentando salvar o mundo a partir da ótica exclusiva da minha crença; fazemos política na escola dos filhos, recebendo a simples prestação de um serviço ou participando efetivamente dos conselhos escolares e da vida estudantil dos alunos.

Fazemos política de diversas formas e em diversos espaços. Fazemos política quando tentamos servir a comunidade em que estamos ou quando nos utilizamos das instituições e do espaço público em que vivemos para benefício próprio. Nas grandes e nas pequenas coisas, existem formas e formas de fazer política, para coletividade ou para a individualidade. Fazemos política, pois, quando criminalizamos a política.

Há, porém, um jeito especialmente nocivo de fazer política: silenciando e deixando as coisas seguirem como estão, à revelia. Em tempos de crise, a recusa à participação, além de cúmplice, é dolosa, pois favorece a quem já domina a situação manter o status quo. Essa atitude desmobiliza qualquer tentativa de mudança. A inação, o silêncio, a alienação são, com frequência, conservadores; às vezes, reacionários; sempre idiotas, no sentido clássico da palavra.

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