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O papel da desinformação

Celso Evaristo – Empregado do BNDES

Por: fernando garcia – 2012

Vínculo 1213 – “É a mídia que controla as fronteiras do que é politicamente permissível, então é melhor mudar a mídia.” (Julian Assange)

Vivemos na era da comunicação. Mais especificamente na era da comunicação high-tech de massas. Ela é abrangente, instantânea, acessível e mobilizadora de corações e mentes. É a consagração das redes sociais virtuais compostas por sites onde amigos, correligionários e mesmo antípodas cadastram-se e influenciam-se mutuamente. Num toque de smartphone, multidões são convocadas a sair às ruas para derrubar governantes indesejados e, no instante seguinte, colocar outros piores no seu lugar; mediocridades são elevadas à categoria de heróis mitológicos com a mesma rapidez com que são relegadas a mais abjeta insignificância. É o império do efêmero, sem deixar de lado a imagem de ‘função democrática’, no limite do possível.

Porém, sofre de síndrome aguda de Poliana quem, a partir dessa ‘democratização’ da informação, pensa presenciar o fim imediato do poder da grande mídia. Salvo as picuinhas nossas de cada dia, pouco conteúdo é discutido na rede que não tenha sido forjado, pautado, direcionado antes pelos diversos agentes das corporações midiáticas. A mídia forma e deforma na medida em que informa o que lhe interessa, no tempo e jeito que lhe convém. Se a difusão desse conteúdo dar-se-á via computadores, celulares, tablets ou pelos mecanismos tradicionais (rádio, jornais, TV) pouco importa.

A verdade é que, hoje, boa parte daquilo apresentado na grande mídia como se informação fosse é meticulosa operação de desinformação resguardada sob várias camadas de mais desinformação cuja finalidade é servir de cortina de fumaça perante os olhos da opinião pública, no sentido de que esta venha a não perceber a real origem e intenção do que é veiculado na mídia como fato inquestionável. Some-se a isso o fenômeno (sem paralelo na história humana) da concentração dos meios tradicionais de comunicação em mãos de um reduzido número de corporações midiáticas, o que torna o jornalismo mundial um mecanismo fabuloso de engenharia social desencadeador de uniformidade perceptiva servil a determinados interesses.

A adoção científica de estratégias de desinformação mostra que nunca foi tão fácil manter populações inteiras na mais completa ignorância sobre fatos essenciais, se não para sempre, ao menos pelo tempo necessário para que planos maquiavélicos, mirabolantes e inverossímeis se realizem sem ter de enfrentar grandes obstáculos junto à opinião pública; muito pelo contrário, buscando sempre seu apoio. Para isso, questões secundárias são apresentadas, reapresentadas, problematizadas à exaustão na qualidade de quintessência das aspirações da sociedade, a fim de encobrir os verdadeiros fins almejados pelo establishment. Alcançados os objetivos esperados, a opinião pública vai sendo amortecida, de forma lenta e gradual, por meio de noticiário diversionista até o esquecimento entediado vencer a motivação despertada no início do processo manipulativo.

Exemplo concreto ilustrativo dessa estratégia midiática tem sido a divulgação metódica de noticioso contrário às empresas e instituições estatais; não todas, é verdade: Judiciário, Forças Armadas e Polícia Federal têm ficado de fora da lista. Os constantes ataques ao BNDES (a maioria sem qualquer sustentação real) corroboram com a tese da seletividade dos alvos.

Poderíamos citar também as recorrentes investidas contra o ensino público gratuito, em especial, e o de nível superior. O espaço aberto na grande mídia aos críticos ferozes do ensino público gratuito não deixa dúvidas sobre o lado para o qual pende o chamado quarto poder.

Sem espaço para estruturarmos a argumentação pormenorizada e necessária sobre as razões dessas múltiplas investidas contra as organizações estatais, fiquemos com certa conclusão plausível: as motivações parecem provir do campo político, embora a alegação desses órgãos midiáticos seja a de que estão trabalhando em prol da transparência, da boa governança da coisa pública e do cumprimento do seu papel de bem informar a população.

A construção ideológica apoiada pelos meios de comuni-cação de massa é clara: se uma empresa, organização ou instituição estatal não vai bem das pernas, não decorre do fato de estar sendo mal administrada, corroída por acordos políticos escusos ou devido aos mecanismos internos de compliance não serem democráticos o suficiente para o seu controle social efetivo, mas, antes, pelo simples fato de serem estatais. Diante de tal narrativa, não mais do que dois neurônios são necessários para chegar-se a uma única conclusão – privatizar o quanto for possível em curto espaço de tempo. O mercado apresenta-se enquanto divindade onisciente, onipresente e onipotente.

O debate político atual brasileiro já não se situa entre hipóteses abstratas, e sim entre grupos de interesses concretos. Num debate de tal natureza, a resultante política não é a conquista apenas de apoio a determinado conjunto de ideias e ações decorrentes de sua efetivação na prática, mas a hegemonia dos grupos que o representam. Por isso, em política, todas as discussões, teóricas ou práticas, acadêmicas ou mercadológicas, desembocam inexoravelmente em caminhos para a conquista e manutenção do poder.

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