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“Are we the Baddies?”

Paulo Moreira Franco – Economista, aposentado do BNDES

32. O Senhor [Krishna] disse: – Sou o Tempo, o grande destruidor das pessoas. Estou envolvido aqui em destruir [essas] pessoas. Mesmo sem você, todos os guerreiros que estão em ambos os exércitos deixarão de existir.

33. Portanto levante-se [e] alcance a fama. Tendo conquistado os inimigos, desfrute de um reinado próspero. Estes [inimigos] foram antes mortos por mim. Seja mero instrumento, Ó Savyasäcin [Arjuna]

(Krishna, no instante da citação de Oppenheimer)

Vocês esperam uma intervenção divina
Mas não sabem que o tempo agora está contra vocês
Vocês se perdem no meio de tanto medo
De não conseguir dinheiro pra comprar sem se vender
E vocês armam seus esquemas ilusórios
Continuam só fingindo que o mundo ninguém fez
Mas acontece que tudo tem começo
E se começa um dia acaba, eu tenho pena de vocês (Fátima – Renato que se autobatizou Russo)

Vínculo 1529 – E neste momento em que nós que escrevemos chegamos à nossa obsolescência, em que ChatGPT começa a ser usado para produzir textos convincentes, este ChatoPMF resolve se impor um desafio semelhante: um curto fragmento, mistura medíocre de Zizek e Borges pretendendo ser Pepe Escobar escrevendo uma teoria apocalíptica católica fundamentalista. Quem sabe algum Dan Brown transforme em best-seller, quem sabe você leitora se divirta com o argumento aqui construído. Ou quem sabe, amigo católico, você olhe no espelho e perceba, horrorizado, o fantasma no que nos tornamos. Sim, não creio que outro master builder tenha juntado essas peças desse jeito. Portanto, divirtam-se.

Meados de 1995, São Martinho do Porto ou num carro em direção à Galícia, não me lembro o lugar, não lembro a situação. Primo Sérgio me conta uma das histórias mais surreais que já ouvi: a dos iranianos que peregrinavam à Fátima. Nos oitenta um antropólogo ou historiador português teria feito uma análise de relatos xiitas medievais e constatado descrições de aparições semelhantes às aparições de Fátima. Este texto teria levado iranianos xiitas a interpretarem na aparição de Fátima a presença da filha do profeta, figura de extrema reverência em um mundo xiita que tem um respeito aos mártires e santos semelhante ao dos católicos (embora sem a devoção, suspeito. Não é assunto que eu domine o suficiente).

Por que exatamente este canto foi escolhido pela virgem para dar as caras trazendo pessoalmente a mensagem profética mais importante da Igreja Católica desde… sei lá, São João? Será que há um quê de Albert no “jardim dos caminhos que se bifurcam” de Borges? Afinal, ali tão perto já tinha uma em Reguengos do Fetal, uma Nossa Senhora que cura pernas e verrugas. E não muito distante, a uma exata maratona de distância, a celebre de Nazaré. Por que não em Cós, em meio a este caminho, com o seu centenário convento? Por que logo Portugal, tão periferia de uma Europa que se despedaçava nesta época? Trajar-se do nome da filha do Profeta é como querer buscar algo ecumênico… como se quisesse alertar sobre algo que os xiitas dizem… algo sobre o Grande Satã, talvez… Ou será apenas uma piada de Gabriel, aquele que ditou para o pai de Fátima, aquele que anunciou a Maria sua gravidez?

A segunda coisa a lembrar é que Nossa Senhora não desceu de um DeLorean. Qual seja: uma profecia pode tratar do futuro, mas não costuma propriamente ter a noção de fatalidade alterável que é a de “De Volta para o Futuro”. Profecias em geral são ou Cassandra ou a inevitabilidade do Trágico. Nossa Senhora não viria para dizer que hoje vocês são bons, mas vão se tornar maus no futuro se não deixarem de mudar. A Aparição vem num momento em que se tem a Grande Guerra, um ato de estupidez industrial que sequer pode ser descrito como movido pela cobiça nas nações católicas envolvidas. Curiosamente, uma das muitas medidas reacionárias de João Paulo II foi a beatificação de Carlos I, último imperador de uma Áustria que deu origem à Grande Guerra.

No provincianismo português de uma república recente e de uma igreja decadente, a mensagem foi (e é até hoje) tomada como uma pregação reacionária, uma defesa de um mundo aristocrático. Por que não interpretar que 1917 não é só o momento em que a Revolução acontece na Rússia, mas também é o momento em que um país que representa o que de mais laico existe – os Estados Unidos – entra na guerra? Você dirá: mas Nossa Senhora fala explicitamente da Rússia! Sim, ela fala da consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração como solução. Fala isso no segundo segredo, depois de fazer no primeiro uma descrição do inferno, que é tão próxima das batalhas da Grande Guerra que horrorizam o Anjo da História de Benjamin (o Angelus Novus, um amigo de Gabriel?). Será porque ela sabe que, pequeno ou grande, Satã não pode ser salvo?

O problema, no entanto, está no Terceiro Segredo, uma revelação tão terrível que não poderia ser trazida a público. Para ser aberto em 60, ou quando Lúcia (a menina para quem Nossa Senhora falou) morresse, João XXIII se recusou a publicá-lo, dizendo que se tratava de assuntos que não se dirigiam ao seu tempo. Curiosamente, é esse mesmo João XXIII que produziu uma reforma radical na Igreja que levou e leva os conservadores à fúria até hoje. Não haveria ali uma interpretação de que alguma coisa radical deveria ser feita para se evitar uma catástrofe? E qual seria essa catástrofe? Curiosamente, 1960 foi um ano em que pela primeira vez um católico foi eleito presidente nos EUA, um católico que com todos os defeitos de David soube evitar que o mundo mergulhasse numa guerra nuclear. Ele e o irmão foram martirizados, até hoje não se sabe por que forças.

O segredo, tal como revelado e interpretado pela Igreja em 2000, trataria da tentativa de se matar João Paulo II. Sinceramente, até um ano atrás uma interpretação que tratasse do escândalo de pedofilia da igreja não me pareceria muito distante. Textos proféticos costumam ser assim, capazes das mais vertiginosas e variadas interpretações. Tal como boa poesia. Mas há controvérsias sobre se aquele de fato é o texto completo. E aqui trago um primeiro Malaquias.

Malachi Martin foi um controverso (ex-)padre irlandês-americano, autor de muitos livros, exorcista e sabe-se lá mais o que, ali em 60, assessor de um importante cardeal americano, que teria tido acesso à carta. Em umas entrevistas nos 90 ele falou de algumas coisas. E essas coisas não estão propriamente na versão da carta publicada. Um grande castigo sobre a igreja? Uma punição espiritual? Apostasia? Tudo poderia ser interpretado ali. Mas que a razão da não publicação seria para não empolgar os soviéticos… achar isso ali seria uma forçação de barra um pouco além da conta. Nos 90, no momento unipolar onde os EUA comandam a regulação do mundo, ninguém poderia prever algo como a guerra que acontece hoje. Vencida a Guerra Fria, o mundo caminhava para paz e progresso.

Hoje, no entanto, o castigo sobre um Ocidente que tomou a si a hubris apocalíptica de que o Fim da História chegara se aproxima. O culto a Mamon levou o Grande Satã à impotência. George W. Bush se achava enfrentando Gog e Magog, como se o Iraque de Saddam fosse alguma potência militar, algum alvo glorioso para as forças de esculacho da hegemonia unipolar americana. Eu não vou entrar nesta visão primária da escatologia, a partir da qual um títere qual Bolsonaro e seu governo produziram o Alcácer-Quibir do pós-Bretton Woods na crise financeira do final de seu governo, na destruição técnica e moral do exército americano enfrentando de forma brutal rebeldes mal armados de um pedaço desértico da Ásia. O quanto a permanente ilusão de uma imensa variedade de cristãos americanos de que o fim está próximo e que eles são os mocinhos da estória é uma outra história. Aqui minha teoria desvia-se para outra profecia estritamente católica, uma profecia não oficial, mas ainda assim reconhecida por muitos, a de outro Malaquias.

A profecia dos papas de São Malaquias é algo bizarro. Uma pequena frase descrevendo cada papa, atribuída a um santo do século XII, publicada no final do século XVI, com toda a pinta de fraude, mas com uma assustadora aderência a alguns papas contemporâneos. Por exemplo, Bento XVI apareceria como Gloria Olivae, o que teria sentido na escolha do nome de São Benedito, fundador da ordem dos Beneditinos, ordem de teólogos. Em sendo Ratzinger um dos maiores teólogos a ser Papa, o epíteto cai como uma luva. E depois de Gloria Olivae…

Problema: tal como escrito na profecia, este, Pedro Romano, é possivelmente o último, com a cidade das sete colinas da qual ele é bispo sendo destruída. E isto bate quase literalmente com o Terceiro Segredo, mesmo no limited hangout desvelado em 2000).

Nos céus um cometa verde cuja última aparição ocorreu ainda havia mamutes e equinos, mas não havia humanos na América, apresenta-se em seu sombrio fulgor, com seu periélio já acontecido em Corona Borealis. Sinais e maravilhas, sinais e maravilhas. “The winter is coming?”, transformando em pergunta a afirmação do grande épico literário de nossa época.

Fazendo um fecho, pergunte-se: somos nós, o Ocidente, os vilões deste mundo? Quem são aqueles na apostasia de servir à riqueza material, a praticar seus atos de indiferente crueldade por dinheiro, como nos revelou o profeta Renato? Será a Rússia restaurada – e não os soviéticos – o terrível instrumento de castigo da Virgem sobre um Ocidente que tanto à direita quanto à esquerda degenerou no culto ao capital, a si mesmo no narcisismo de um indivíduo que se acha centro do mundo com seus traumas e seu ego pessoalmente construído, na negação da ágape, na destruição daquilo que é bios e zoe, que é natureza, família, comunidade, Umma?

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