VÍNCULO 1597 – Publicamos, a seguir, entrevista divulgada na edição do Giro Benedense desta quinta-feira (6) com o advogado Jorge Fernando Schettini, futuro presidente da AFBNDES, eleito pela chapa Adiante, que venceu, na semana passada, o pleito para a Diretoria da AFBNDES (mandato 2024-2026). Atualmente trabalhando na AJI/JUCON, Schettini está no BNDES desde 1992. Atuou no Contencioso por 30 anos, como técnico, gerente e chefe de departamento. Com passagem pela Auditoria, também integrou a Comissão de Ética por seis anos. A nova direção da entidade tomará posse em 1º de julho de 2024.
Giro – Foi expressiva a participação dos associados na eleição que renovou a Diretoria da AFBNDES (1.429 votantes, marca recorde nos últimos 14 anos, pelo menos). A chapa Adiante conquistou a maior parte dos votos, 597 (quase 42% da votação), ficando na primeira posição. Como vocês avaliaram esse resultado?
Jorge Fernando Schettini – Acredito que o grande número de pessoas votantes seja um belo sinal da consciência política dos benedenses, significando um maior envolvimento sobre os destinos do nosso ambiente de trabalho, bem como um reconhecimento da importância da AFBNDES como canal fundamental de participação e interlocução. A maioria eleitoral da chapa Adiante traduz um voto de confiança na direção de uma Associação independente e colaborativa, mais empática e com valorização da diversidade em todas as suas formas, alternativas e complementaridades. Acredito de todo coração que somos melhores porque somos diferentes. Juntos, somamos.
Giro – No dia seguinte à eleição, a Diretoria do BNDES reconheceu o trabalho da atual gestão da AFBNDES e deu boas-vindas à nova direção, afirmando contar com “a continuidade do diálogo aberto, da cooperação e do compromisso com os valores que norteiam nossa instituição”. Como vocês viram essa mensagem?
Schettini – Recebemos a mensagem da Diretoria do BNDES com muita satisfação. É importante que a Administração do Banco reconheça que as divergências podem ser tratadas e debatidas de forma cortês, institucional, ética. Foi uma mensagem muito importante, tanto no sentido de reconhecer o processo democrático, como demonstrar que todas as participações são bem-vindas. A alternância dos atores políticos não significa um não reconhecimento de tudo o que nos precedeu. Nós, que assumiremos a partir do dia 01/07, também passaremos o bastão no futuro e assim será ao longo da história da Associação. O fundamental é a participação de todos nas instâncias de diálogo e de deliberação, com serenidade e prudência. Sabemos que teremos duras negociações pela frente, mas contamos com o apoio do corpo funcional e dos aposentados, e também com a boa vontade e com a boa-fé da Administração, sempre.
Giro – Além da negociação da PLR 2024, este ano teremos a renovação do ACT e da Convenção Coletiva de Trabalho da categoria bancária, que tem data-base em 1° de setembro. Como vocês estão pensando a relação com as entidades sindicais, notadamente o Sindicato dos Bancários do Rio e a Contraf-CUT?
Schettini – Nós queremos que a nossa relação seja a mais próxima possível: nós, benedenses, precisamos nos aprofundar na missão das entidades sindicais, que conduzem uma categoria, da qual fazemos parte, que é fundamental para o desenvolvimento brasileiro. Por outro lado, também queremos que as entidades sindicais saibam como os empregados do BNDES contribuem e podem contribuir mais na luta por uma sociedade mais justa e fraterna, com desenvolvimento econômico e social. Entendemos que é preciso aproximar o Sindicato do corpo funcional… Não é bom que fiquemos numa relação até distante o ano inteiro e que, no momento das principais negociações, esperemos que as entidades sindicais entendam os nossos problemas e reinvindicações… Essa relação tem que ser valorizada e construída ao longo do ano e tem que ser uma via de mão dupla.
Giro – E no âmbito interno, será buscada a convergência com as demais Associações do Sistema BNDES?
Schettini – A convergência é tudo o que nós queremos, sempre. A AFFINAME e a AFBNDESPAR estão do nosso lado desde o começo, contemplam os empregados dos outros integrantes do Sistema BNDES e sabem como ninguém contribuir na construção de bons relacionamentos. Estão nessa luta há muito tempo e têm todo o nosso respeito e reconhecimento. Também temos muito o que conversar com a associação dos porta-joias, com a associação dos advogados, com a Anadema dos anistiados, com a APA e com a nova associação dos aposentados, a AAPBB. Nossa expectativa é de muita parceria em busca dos objetivos comuns.
Giro – Diversos segmentos benedenses – NM, porta-joias, desincorporados, empregados da AMC, grupamento C, anistiados, desligados compulsoriamente aos 70 anos, aposentados etc. – têm demandas próprias. Qual será, inicialmente, a estratégia para o enfrentamento dessas lutas?
Schettini – Respeito tudo o que as diretorias da AFBNDES têm feito pelo Banco e pelos empregados nos últimos mandatos, mas se não achássemos que podíamos fazer diferente (e melhor) eu não teria me candidatado. O primeiro passo é completar o nosso diagnóstico dos problemas que afetam esses segmentos mencionados e, ainda, continuar levantando os demais problemas que precisaremos enfrentar. A ideia é escutarmos e anotarmos o máximo possível para completarmos uma espécie de inventário dos problemas da Casa. Durante a campanha, já nos reunimos com muita gente, mas o tempo, é claro, foi curto para fecharmos um diagnóstico completo. De qualquer forma, entendo que é importante, antes de qualquer ação, fazer esse trabalho de reunir, reagrupar e olhar em volta. Precisamos entender onde estamos e para onde vamos. A participação do máximo possível de empregados e aposentados é fundamental já neste momento e a partir dele.
Giro – A defesa do BNDES e do corpo funcional benedense – elementos primordiais para o desenvolvimento econômico e social do país – talvez seja a tarefa mais importante da AFBNDES nos seus 70 anos de existência, haja vista o que ocorreu de 2016 a 2022, anos de grande resistência…
Schettini – Correto. Com uma ressalva que quero frisar: sem deixar de dar importância à defesa institucional do BNDES, acho que a defesa dos interesses do corpo funcional e aposentados é a missão precípua da Associação. Se não defendermos o corpo funcional, os aposentados, suas famílias, quem mais o fará? Essa é uma crítica que escutei muito contra a diretoria que deixa o mandato… Particularmente, acho que devemos, sim, reconhecer o importante papel que desempenharam na defesa institucional do Banco – que foi muito bem feito –, mas acho que a parte de unir, de escutar e de representar propriamente dito os benedenses em suas questões, por exemplo, trabalhistas, poderia ter sido feita com mais envolvimento e participação dos empregados e aposentados.
Giro – “Acreditamos na valorização das dissonâncias, no exercício sereno da discordância, no assentamento das nossas diferenças pelos pontos em que nos tocamos, não pelas arestas que nos afastam”. Este é um dos trechos da mensagem da chapa Adiante aos associados, publicada no VÍNCULO um dia após a vitória. Este será o plano de voo da nova direção da entidade?
Schettini – Com certeza! Nos últimos anos a gente vem observando um acirramento na polarização política que acabou por reverberar em inúmeros espaços da sociedade. Quem nunca se deparou com discussões acaloradas no âmbito familiar, entre amigos? Assim como o país, o BNDES é plural em crenças, orientações, entendimentos e perspectivas. Nós queremos que a AFBNDES seja um espaço onde todas as diferenças encontrem uma possibilidade de debate sereno e democrático. Agressividade no discordar e interdição de vozes divergentes não vão ter vez na Associação. As melhores soluções têm que ser construídas em conjunto. Vaidades e interesses pessoais não podem dominar a condução do debate. Quem se aferra ao pensamento único já sai como derrotado.
Giro – Políticas de inclusão e diversidade estão na ordem do dia do BNDES interna e externamente. Já existem comissões criadas com o apoio da AFBNDES para influenciar e potencializar tais políticas na ótica benedense. O que pensa a nova gestão a respeito?
Schettini – Sim, estão, e com justa razão, na ordem do dia. Nosso estágio civilizatório não permite mais condutas que não reflitam o respeito à inclusão e à diversidade. É evidente que no BNDES, uma instituição que se orgulha da sua excelência, a inclusão e a valorização da diversidade têm que ser levadas a sério. O Banco já publicou sua Política de Equidade de Gênero e Valorização da Diversidade, mas é preciso acompanhar sempre, bem como identificar e inibir os episódios de assédio, moral ou sexual. E podemos ir além, queremos não apenas coibir comportamentos na contramão desses valores, mas também estimular uma maior divulgação da importância das pessoas em todos os seus matizes. Exatamente por isso que a nossa chapa apresentou a Diretoria de Diversidade e Inclusão, sob a batuta do Paulo Ortega, pessoa maravilhosa e com todas as competências para lidar com a pasta, além de já termos procurado componentes de outras chapas engajados e dispostos a continuar as suas iniciativas também com o nosso apoio.
Giro – Tratando das unidades de lazer da AFBNDES, das atividades socioculturais e da governança da entidade, quais são os planos da nova gestão?
Schettini – São temas muito relevantes. Durante a campanha a gente ouviu reclamações sobre o Clube da Barra e a Pousada, queremos nos atualizar sobre como as unidades estão para podemos estabelecer, sob a liderança da Sandra Barros, nossa Diretora Administrativa e Patrimonial, bem como do Carlos Alberto “Maradona”, nosso Diretor Financeiro, planos de ações aderentes à realidade. Também estamos muito empolgados com as possibilidades de ações culturais da AFBNDES, mantendo e ampliando a atual programação. O Alexandre Neiva Pessoa, nosso diretor cultural, vai trabalhar bastante nesse sentido. Sobre a governança, achamos fundamental implementar uma política de total transparência financeira da Associação, bem como aprimorar as regras, com o auxílio do Conselho Deliberativo da Associação, que garantem a paridade de armas na disputa em períodos de eleição.
► Ratificação do resultado da eleição para a Diretoria da AFBNDES
Como não houve recursos ao Conselho Deliberativo em relação ao resultado da eleição para a Diretoria da AFBNDES, realizada em 28 de maio, a Comissão Eleitoral ratificou, nesta quarta-feira (5), a vitória da chapa Adiante no pleito. A posse da nova Diretoria da Associação, no ano em que a entidade celebra 70 anos, acontecerá em 1º de julho.