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Sobre a mania de grandeza e a aversão à autocrítica dos funcionários do BNDES

VÍNCULO 1330 – A imprensa tem falado sobre os funcionários do Banco. Em geral, quando o tema é a capacidade do corpo técnico, as menções tendem a ser positivas. Mas tem ficado comum também uma preocupação com a postura supostamente reativa ou corporativista dos empregados.

Nunca se foi tão longe nessa abordagem como no artigo da jornalista Miriam Leitão, no O Globo de 9 de janeiro, dia seguinte à transmissão de cargo na Presidência do BNDES. No artigo, a jornalista chegou a reconhecer o caráter “fundamental” do BNDES e se mostrou muito otimista em relação ao potencial da nova administração Levy. E foi exatamente nos comentários sobre as perspectivas positivas diante do novo presidente do Banco que Miriam Leitão localizou uma única nuvem negra no horizonte. Quem ainda não leu o artigo poderia arriscar que a jornalista apontou como obstáculo a fraca recuperação da economia brasileira, a falta de uma estratégia de desenvolvimento para o país ou a ameaça de uma crise internacional. Mas não. A maior ameaça ao sucesso da presente gestão, segundo ela, seria o corpo de funcionários do BNDES.

É realmente surpreendente. Talvez por isso a maior parte do artigo esteja voltada para explicar porque os funcionários podem ser um problema. Seriam dois os fatores fundamentais: (1) os funcionários do BNDES sofreriam de uma espécie de “mania de grandeza” – teriam  fixação por um BNDES turbinado, grande; e (2) seríamos avessos à autocrítica. Examinemos os argumentos.

O primeiro fator explicaria porque seríamos todos muito reativos “a quem chega com a promessa de reduzir a dimensão do banco”. Por exemplo, explicaria porque “houve tanta reação à Maria Silvia e à TLP”. A “mania de grandeza” seria explicada pelo fato de que “mais de 70% dos funcionários foram contratados na administração de Luciano Coutinho” e, portanto, foram “formados em sua maioria dentro da ideia do BNDES turbinado com recursos do Tesouro, que fazia a escolha de campeões nacionais”.

Ao segundo fator – aversão à autocrítica –, nenhuma explicação específica é atribuída. Mas podemos imaginar que fica na conta do “corporativismo”, tão propalado quanto irreconhecível pelo corpo de funcionários do BNDES.

A jornalista dá três exemplos da contrariedade à autocrítica: o sucesso entre funcionários do “Livro Verde”, organizado na gestão Rabello de Castro; a reação às declarações de Dyogo Oliveira sobre financiamentos para Venezuela e Cuba; e a suposta aprovação da maioria dos empregados às operações de apoio a frigoríficos, como JBS e Independência.

Diante do exposto, Miriam Leitão aconselha o presidente do BNDES a convencer os funcionários do BNDES de que “o caminho virtuoso é financiar o desenvolvimento, mas evitar que a instituição seja mais um instrumento para fortalecer o patrimonialismo brasileiro”.

Não sabemos quem a jornalista consulta para formar suas opiniões sobre os funcionários do BNDES. Podemos apenas assegurar que não é a AFBNDES, com quem a jornalista nunca entrou em contato. Discordamos muito de sua análise. Vejamos.

Miriam Leitão fala em mania de grandeza, mas a realidade mostra o nível mais baixo de desembolso do Banco dos últimos 20 anos e constantes referências de autoridades, economistas e editoriais jornalísticos questionando a própria existência do BNDES. Manifestações tão recentes que seria ocioso aqui reproduzi-las. No discurso de posse do atual ministro da Economia, aponta-se para o microcrédito como o único objetivo justificável para o crédito direcionado e, mesmo assim, questiona-se a necessidade de bancos públicos para canalizá-lo.

A realidade também mostra a existência de centenas de bancos de desenvolvimento no mundo, inclusive em países desenvolvidos como a Alemanha. A jornalista fala de TLP e a realidade mostra instituições de fomento, mesmo em países desenvolvidos, dispondo de condições especiais que as permitem praticar taxas subsidiadas ou promocionais.

A jornalista fala em mania de grandeza e TLP para explicar a impopularidade de Maria Silvia, mas a realidade mostrou uma presidente que se desgastou por não ter tido nem convicção, nem coragem para defender o BNDES no seu momento mais crítico, quando tinha informações e acesso à mídia para fazer tal defesa.

Conclusão: se o ponto de vista de Miriam Leitão fosse ajustado à realidade, ela compreenderia que para explicar a mobilização dos funcionários do BNDES contra a TLP ou contra as devoluções ou contra a campanha de difamação do Banco não é necessário recorrer a qualquer fixação de ordem emocional. Estamos simplesmente diante da defesa de uma instituição por empregados que acreditam na sua importância para o país, ou seja, trata-se de ação coletiva racional e patriótica.

Sobre a suposta aversão à autocrítica, os três temas citados mereceriam uma resposta mais longa.  O ponto geral que pode ser tratado aqui é que, no nosso ponto de vista, os problemas do BNDES precisam ser discutidos como casos de “política” (pública) e não como casos de “polícia”. Não há aversão a debater nenhum tema na Casa. É claro, tudo fica mais delicado quando os assuntos estão sendo tratados como casos de “polícia”. Quando um funcionário pode ser conduzido coercitivamente porque escreveu um relatório explicativo ao TCU sobre uma operação, como não ter receio de que a participação num debate sobre o tema possa ter implicações similares? 

Sim, consideramos o “Livro Verde” muito importante – e foi uma grande iniciativa do presidente Paulo Rabello de Castro. Seu objetivo foi sistematizar informações sobre pontos polêmicos quanto ao BNDES. Ninguém está obrigado a subscrever todo o conteúdo do livro, mas o consideramos um serviço prestado à opinião pública. O documento pode ser um ótimo ponto de partida para debater tanto as exportações de serviços de construção quanto o apoio aos frigoríficos. Ainda que possivelmente haja diferentes posições sobre os méritos da atuação do BNDES nessas operações, a ampla maioria dos funcionários discorda, sim, de que o Banco operou aqui como mero instrumento de fortalecimento do patrimonialismo. Não consta que Miriam Leitão tenha promovido debate sobre esses temas com os empregados. Então, como pode ela estar tão segura de sua posição? Somos tão favoráveis ao debate que concordaríamos em qualquer condição dele participar. A jornalista pode dizer a hora e o local que a AFBNDES escutará todas as críticas sobre esses e outros temas, desde que possa ter espaço para discuti-los em seguida. Em tempo: temos reunião marcada com o presidente do BNDES, Joaquim Levy, nesta quinta-feira (24), às 16h.

Associação dos
Funcionários do BNDES

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