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Que país é esse?

VÍNCULO 1345 – “A maioria ali é militante. É militante. Não tem nada na cabeça. Se perguntar 7×8, não sabe. Se você perguntar a fórmula da água, não sabe, não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis, que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais no Brasil”.

“Fala-se que tem muito desempregado, 14 milhões, mas parte deles não tem qualquer qualificação”.

Presidente Jair Bolsonaro, ontem, em Dallas (EUA), comentando sobre as manifestações contra cortes na educação e sobre a crise econômica.

Os 26 estados da federação e o Distrito Federal, 118 cidades no país inteiro, foram palco de manifestações contra o corte de repasse de recursos para a educação. Até escolas particulares aderiram à greve.

A reação do presidente da República, em sua segunda viagem aos Estados Unidos, e do ministro da Educação, Abraham Weintraub, convocado pela Câmara dos Deputados, foi a de partir para o confronto.

A disposição ao confronto não parece ser fruto de uma convicção do presidente quanto às medidas de corte na educação. No dia anterior, segundo 10 parlamentares de partidos próximos à base do governo, o presidente havia ligado para o ministro da Educação e determinado que os cortes fossem suspensos. Quando esses parlamentares começaram a divulgar a novidade, foram desmentidos pela Casa Civil e pela liderança do governo. Em Dallas, antes de insultar os manifestantes, Jair Bolsonaro afirmou que não gostaria de determinar cortes orçamentários, principalmente na educação. Tais posicionamentos poderiam levar à ideia de que haveria alguma empatia pelos protestos. Mas não: sua fala é de repulsiva, antidemocrática, desqualificação dos manifestantes.

Seu segundo ministro da Educação – também saído da mesma base “olavista” do governo (para quem não sabe o que é, pode substituir o termo por “insana”, ainda que seja impreciso, já que há outras alas insanas ao redor da presidência) – entrou no Congresso provocando os deputados, chegando a chamá-los de vagabundos (chegou a questionar se os parlamentares conheciam a “carteirinha azul”). Atenção: acusação generalizada a todos os congressistas, não apenas aos da oposição. Estamos falando de gente que se leva muito a sério e que tem como grande mestre um astrólogo profissional, teórico da conspiração, alguém que está certamente longe de qualquer equilíbrio mental, a se julgar por suas manifestações em redes sociais.

O novo ministro transformou o que seriam inevitavelmente impopulares cortes na educação em provocação às universidades. Primeiro prometeu discriminar as universidades promotoras de balbúrdia, depois os cursos de humanas, para terminar com um corte generalizado, sem critérios claros. Não satisfeito com todas as provocações, tentou vender, na famosa patética performance com chocolatinhos, que os cortes eram de apenas 3,5%, quando de fato são de 30% (obviamente o que interessa é o corte sobre o que o ministro pode cortar, ou seja, as despesas discricionárias).

Curiosa a intercalada de declarações favoráveis à democracia e respeito à diversidade de opinião com provocações e desrespeito a manifestantes e ao Congresso Nacional, tanto do presidente quanto do ministro. Somos levados a pensar se a incompatibilidade entre elas é reveladora de que as primeiras são apenas concessões ao senso comum, e que as declarações agressivas e antidemocráticas são verdadeiramente reveladoras de suas posições efetivas.

Queremos encontrar razões para ter esperança, mas não podemos alimentar ilusões pueris. Não há nada para se esperar dessas lideranças. São o que são e não vão mudar. Falta de convicção combinada com radicalização. Talvez não saibam o que estão fazendo, mas fazem o que sabem fazer: provocar e dividir.

O resultado está aí. Em quatro meses de governo, com uma oposição dividida, ainda em organização ou irremediavelmente desorganizada, chegamos a manifestações de protesto desse tamanho.

Uma alma pequena poderia perguntar: o que tudo isso tem a ver com o BNDES? Se um tema consensual como a educação é base para toda essa batalha, o que esperar do complexo tema do desenvolvimento?

Quem diria que 40 anos após o Brasil da ditadura militar, que inspirou a música-protesto de Renato Russo, estaríamos fazendo a mesma pergunta, tão ou mais perplexos e indignados?

Que país é esse?

Associação dos
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