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Vender e devolver: crônica de uma morte anunciada

VÍNCULO 1372 – O mandato do sr. Gustavo Montezano representa interven-ção mal disfarçada do Ministério da Economia no BNDES. O único propósito real da atual administração é vender as participações acionárias da BNDESPar e devolver os aportes do Tesouro no BNDES. O resto é pouco mais que uma fachada. Claro que, de certa forma, nada foi escondido de ninguém. Das cinco metas de Montezano, as três primeiras são sobre atender Brasília, atender as demandas que fizeram com que Joaquim Levy fosse chutado do Banco.

A busca da “caixa-preta perdida” tem a função de alimentar o discurso eleitoral do presidente da República, hoje e no futuro próximo. Vender, devolver e atender à demanda do ministro da Economia – ao mesmo tempo fundamentalista-liberal e amiga do mercado financeiro. Ninguém pode dizer que é totalmente não transparente. É claro que também não é transparente porque oficialmente não se admite que esses são os objetivos. Somos obrigados a escutar com cara de interessados toda a conversa fiada acerca do “bndes aberto”, do fim do sigilo bancário, dos riscos da carteira da BNDESPar, de posições especulativas da carteira, de que temos Petrobras demais e saneamento de menos etc. etc. etc.

A realidade é que a venda das ações – ou o desinvestimento – vem sendo planejada sem qualquer plano de reinvestimento. O discurso de que o Banco tem muito de Petrobras e que precisa ter mais saneamento, implicando, em decorrência, que devemos vender Petrobras para investir em saneamento, é pura retórica para convencer – desculpem a sinceridade – trouxas. Não há sombra de dúvida que é nulo o respeito de quem pilota tais mudanças pelos que compram o discurso oficial. Vende-se Petrobras e se venderá toda a carteira da BNDESPar por que o ex-chefe do nosso chefe falou que não precisamos de BNDESPar e tem um monte de gente no mercado fazendo as contas de quanto ganharão com esta brincadeira. Temos os toscos e os que procuram disfarçar a falta de refinamento. Os toscos contam com a vantagem significativa, num tempo de difusão propositada de mentiras, de oferecerem a mer-cadoria mais escassa: os verdadeiros propósitos.

Com a saída do mais experiente superintendente da Casa, vemos que a atual diretoria se sente encorajada com a experiência da BNDESPar e que quando se trata de cumprir a agenda de Brasília, “si hay reglas, soy contra”. O espaço que o ex-presidente Levy acreditava que existia de tocar a agenda dentro das regras e das recomendações técnicas, não existe mesmo.

Se temos a gestão dos sonhos de Paulo Guedes no BNDES, o que o ministro fala sobre o futuro do Banco? Privatização, concessões e saneamento. O maior desembolso da série histórica do Banco para o saneamento foi de menos de R$ 9 bi. As outras agendas têm zero desembolso imediato e no futuro próximo. Façam as contas sobre quantos empregos teremos no Banco antes de reclamar que a AFBNDES fala muito de “política”.

A propósito, o ideal de um BNDES “apolítico”, como preconiza o presidente Montezano, vai na direção contrária ao que muitos concluíram quando viram o isolamento político do Banco em Brasília na experiência dos últimos anos. Engraçado que esse BNDES “apolítico” é o mesmo que se presta, de forma inédita, a fornecer material de campanha eleitoral explícita e mentirosa (Vide o caso dos jatinhos. Um aviso aos que discordam: só os mais incautos podem negar isto. Toda a imprensa – não incluímos o “Antagonista” quando usamos este termo, por conta do manual de redação do VÍNCULO – sabe do que se tratou).

É também este o mesmo BNDES que, precisando da defesa de recursos constitucionais postos em risco no Congresso, opta por lavar as mãos (para quem fica tenso, não esqueça que podemos contar com o dinheiro daquele povo rico que se preocupa com a “base”, uma vez que não quer ter seus carros queimados…).

A AFBNDES é abertamente política e, ao mesmo tempo, mortalmente adversária de qualquer partidarismo ou aparelhamento. É natural e correto que se rejeite o partidarismo de organizações sociais. É estúpido deixar que usem isso para impedir a atuação política de qualquer organização social. Tomamos posição sobre o BNDES, sobre sua importância para o país, e vamos disputar isso com interpretações adversárias, na opinião pública, no Parlamento, na Justiça, nos órgãos reguladores, e por aí vai. Fazemos isso da forma mais transparente possível em artigos, notas públicas, editoriais. Sempre abrindo espaço para a divergência. Note-se que não há nenhuma oposição necessária entre essa acepção de política e o compromisso com a “técnica”, ou seja, com argumentos pautados por evidência, com conhecimento de causa e que busquem a verdade. Nós advogamos justamente uma política tecnicamente fundamentada.

Nossos adversários fazem isso com intensidade muito maior. Estavam TODOS nas votações e audiências da MP 777, estão no aconselhamento de deputados e senadores em cada Proposta de Emenda Constitucional e em cada Medida Provisória que contou e conta com um jabuti pendurado pelo Ministério da Economia para acabar com o BNDES ou reduzir drasticamente sua atuação. Escrevem contra o Banco em todos os veículos disponíveis. E continuarão a fazer isso. A única razão para a batalha não estar perdida é que eles têm um probleminha bem constrangedor: mentem sistematicamente, despudoradamente. E mentira tem perna curta.

É claro que ficar fora da disputa, não responder às mentiras de gente influente quando as informações estão disponíveis, significa concordar com a perpetuação de inverdades e com a destruição da reputação de pessoas e instituições. Como pode-se ver, defender um BNDES “apolítico” é bem coerente com o mandato de desmonte do Banco.

Associação dos
Funcionários do BNDES

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