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A Nova Estrutura Proposta

Paulo Moreira Franco – Economista do BNDES

“Eu vou publicar seus segredosEu vou mergulhar sua guiaEu vou derramar nos seus planos”.(Adriana Calcanhotto)

Vínculo 1360 – Confesso que esperava que ela fosse mais ambiciosa, mais revolucionária, quando vi o powerpoint de estratégia. Mas mesmo sem o ser em sua plenitude, a estrutura que nos foi outorgada pela nova administração tem sua graça. Em minha opinião, ambas bem melhores do que as anteriores, criadas aquelas por nossos colegas sob as bênçãos do golpismo temerista e da luso-germânica consultoria da Roland Berger. Entre as semanas da estratégia e da estrutura, creio que foi dado um passo atrás, talvez por um certo pragmatismo responsável, talvez para viabilizar dois à frente em direção à utopia liberal de Guedes. Sob a nova proposta de estrutura, creio que já demos passos o bastante para escaparmos de sentar na proposta integralista de reformas de Olavo de Carvalho e associados.

Pois como diria Notorious Big, “é preciso que tudo mude para que tudo se mantenha“.

E as mudanças começam. O Banco, que na brilhante observação de um patrício economista liberal, “tornou-se uma máquina de transformar enquadramento em liberação” nos anos de Luciano, agora é instado a fazer outra coisa. O quanto isso me surpreende? Em nada. Aliás, pouca coisa me surpreende neste governo. Da aletheia da Lava-Jato à Amazônia que arde, em nada novidade. Tivessem atentado ao programa de Bolsonaro (e ao discurso de Paulo Guedes antes e depois da vitória), não haveria tanta surpresa. Tá tudo lá, taokey? É que as pessoas, no conservadorismo de suas crenças pessoais, ficam com seus “tem que manter isso aí”, sem se dar conta de que o mundo mudou. Ficam achando que qualquer governo vai ser como Dilma, que foi eleita com uma determinada pauta e, traindo seus compromissos, assumiu o segundo mandato com Joaquim como plenipotenciário ministro da Fazenda.

Não que acredite na capacidade do projeto liberal subjacente de produzir qualquer reativação da economia – atente-se ao que os Andrés (Lara e Nassif) vêm dizendo. Da reforma da Previdência ao teto de gastos, nada do atual processo de destruição do Estado vai levar à retomada. Junte-se o caos que se aproxima com as guerras comerciais entre China e EUA, Coréia e Japão; a mais recente falência da direita argentina; Inglaterra e Itália dissolvendo a Europa; Saturno atravessando Plutão em Capricórnio, em suma: tudo reforça a perspectiva de que iremos, enquanto nação, sentar na projeção iniciática de revoluções de Olavo de Carvalho, astrólogo.

Mas há umas coisas bacanas na nova estratégia. Menos Banco, Mais Desenvolvimento é um tremendo lema. No meu olhar de esquerda isso relembra que esta instituição ao invés de buscar margens e lucros e procedimentos concebidos originalmente para atender a acionistas e melhores práticas que de públicas não têm nada, deveria atuar de forma… como explicar isso de forma clara… sem blábláblá? Sabe aumentar o spread básico num momento em que a economia contraia, em que nosso ativo contraia, porque queríamos manter uma taxa de crescimento de patrimônio líquido? Pois é: coisas assim são Mais Banco e Menos Desenvolvimento. 2015, com o crido como talentoso Joaquim na Fazenda, estávamos tentando enfiar “mercado” goela abaixo dos clientes, sem a menor preocupação de olhar que a economia estava indo para o buraco. Deu no que deu.

A segunda coisa que acho fantástica na estratégia é redirecionar o Banco para o setor público. Não que eu ache que o papel de sushiman do Estado brasileiro, servindo sashimis de estados e municípios a míticos investidores internacionais, é algo que vá trazer alguma mudança positiva. Mas o fato de que o Banco passará a dialogar com os entes públicos não mais sob a filosofia de que isso é uma desagradável e secundária obrigação, coisa feita por meia dúzia de manés abnegados (qual seja, possivelmente as pessoas mais legais deste Banco), mas que isso é a Missão com “m” maiúsculo, abre espaço para que se desenvolva na Casa o valor Espírito Público, tão esquecido sob o papo de competitividade que se agravou na Caixa-Preta desde a criação da TLP. Aliás, como devoto de blue ocean strategy, ver enterrado o papo de competitividade não tem preço.

Mas é na Caixa-Preta, imperiosa resposta a Olavo de Carvalho e a Álvaro, de quem Rabello era estepe, que culminam as realizações desta refundação. Álvaro, que submeteu nosso jovem presidente ao Caminho de Canossa de um vídeo no youtube no qual o plastificado homem que não leu o Livro Verde, ocupa o centro da imagem. Álvaro, em cuja boca a Caixa-Preta ressoa como algo que ele teme, algum Adamastor do poeta Bocage.

Como enfrentar um mito, como a Caixa-Preta, num momento em que somos governados pelo Mito? Buscamos identidade, mas não sabemos explicar.

Pegue-se o caso dos aviões. Doria e Huck ao invés de comprarem um Gulfstream adquirem um Embraer. Palmas pra eles! Próxima etapa é fazerem isso com carros, roupas e relógios. Foi financiado com dinheiro do Banco? Sim, qual o problema? É proibido comprar jatinho? Preferimos que o jatinho seja subsidiado pelo governo canadense? O caso em si é paradigmático de quanto um moralismo tosco serve a todos os lados para criticar uma atuação do Banco que reflete o mundo tal como ele é, tal como ele legalmente opera – e não as fantasias morais de cada lado. Buscam-se Cuba e Caracas. Mas será que existe alguma razão pra viver assim se não estamos de verdade juntos, se no fogo amigo entre elites financeiras, privatização e agronegócio – exatamente onde se assenta Álvaro – é onde se possa achar uma brasa?

Mas em poucos dias virão à tona revelações como a de que o Madureira é comunista e funcionário da BNDESPAR. Requentadas, prazo de validade vencido, mas no desespero do fratricida desmoronar permanente deste governo, qualquer factoide serve.

De Chacinas e de Causas trato depois, hipertextos deste, cenas de próximos episódios em um mundo mais triste, posto que a caçulinha esquisita do Cubatão se foi. Foi um Prazer ter pisado o mesmo porão que você, Fernandinha

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