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A onda

Celso Evaristo Silva – Empregado do BNDES

Vínculo 1274 – Quando foi apontado que o impedimento de Dilma Rousseff era somente o começo do fim das conquistas sociais no país, a ponta do iceberg de nosso retrocesso civilizacional, que no rastro dele viriam a legitimação da precarização mais abjeta dos direitos trabalhistas, a retomada, em alguns casos, do trabalho escravo sem correntes, a reforma da previdência imposta goela abaixo da população, sem ter como precedente o mínimo debate sério e meticuloso exigido em reformas desse tipo, a emergência de práticas fascistoides reveladoras do ranço conservador cultural de nossa herança escravocrata e patriarcal, aquelas pessoas que seguem devotamente a grande mídia disseram, como de costume, que tudo isso era invencionice, teoria conspiratória, alarmismo de ressentidos.

Na atual conjuntura, o ‘salve-se quem puder’ dos sem-emprego virou empreendedorismo; a desnacionalização da economia e o desmonte do setor público, redimensionamento do Estado; o requentar de valores arcaicos, renovação espiritual; e por aí se vai montando a estrutura ideológica sustentadora das mudanças em andamento, fruto da aliança do neoliberalismo econômico com o reacionarismo político e cultural. De certa forma, revival customizado do Chile de Pinochet, sem os tanques à frente (por enquanto, ao menos).

A formação dessas ondas conservadoras/reacionárias começa em discussões discretas em círculos de intelectuais, ganha corpo nos think tanks (organizações ou instituições que atuam no campo dos grupos de interesse, produzindo e difundindo conhecimento sobre assuntos estratégicos, com vistas a influenciar transformações na sociedade, geralmente de cunho liberal/conservador) e, só aos poucos, num prazo que pode levar décadas, se converte em matérias da mídia, caindo no senso comum. A maioria dos intelectuais orgânicos do sistema com seus seguidores, incapaz de acompanhar as discussões desde sua base filosófica e conceitual, só toma conhecimento do processo na sua última fase, a fase do fato consumado, quando as principais linhas de ação já estão postas.

A onda liberal/conservadora surgida no início dos anos 1980 no mundo anglo-saxão se espalhou pelo planeta e, como refluxo, retorna ao Brasil para completar o trabalho iniciado nos anos 90 e interrompido parcialmente durante os governos petistas.

O poder monetário dos EUA ainda é muito forte. Mesmo depois da última crise, esses recursos são usados para financiar campanhas políticas, influenciar a mídia, enfraquecer a mobilização social. Wall Street gastou muito dinheiro em lobbies para enfraquecer a regulação da lei Dodd-Frank (promulgada em 2010 pelo presidente Barack Obama para se fazer a reforma do sistema financeiro e dar proteção ao consumidor). Quarenta anos de ideologia neoliberal conseguiram mudar a percepção coletiva de como o sistema funciona. É quase uma lavagem cerebral.

A cabeça das pessoas foi tão influenciada pela onda neoliberal, marcada por anos de campanha incessante sobre as virtudes absolutas e inquestionáveis do mercado livre, que vai demorar a desconstrução desse imaginário coletivo. Tudo o que se opõe a essa onda é taxado de populismo de esquerda ou de direita.

A direita globalista mundial, hoje em dia, é tropa de choque dos megabilionários e das grandes corporações. Nada mais.

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