Arthur Koblitz – Economista, vice-presidente da AFBNDES
Vínculo 1297 – Morreu ontem o professor Fernando Cardim de Carvalho aos 60 anos. O professor tem vários ex-alunos e orientandos no BNDES. Foi um modelo de acadêmico. Publicação intensa, sobre tópicos variados e iluminada por um programa de pesquisa consistente. Teoricamente dedicou-se a sistematizar e divulgar a abordagem pós-keynesiana. Seu livro “Mr. Keynes and the Post-Keynesians” é o exemplo maior desse esforço. Nele encontramos muito mais que a mera divulgação da exposição dos principais teóricos dessas escolas, Paul Davidson, seu orientador, Hyman Minsky e Jean Kregel. Em vários tópicos Cardim apresenta sua própria abordagem para os problemas fundamentais da macroeconomia, sua própria versão da teoria pós-keynesiana. Entre suas contribuições encontramos desde o tratamento dos regimes de alta inflação, que poderia ser considerado esperado de um macroeconomista latino-americano, até, a menos óbvia, discussão sobre a incerteza Keynesiana, marcada pela sua leitura da obra filosófica de Keynes, “Treatise on Probability”.
Suas aulas eram de um didatismo insuperável. Exemplo não tão comum de um professor respeitado, requisitado e acessível. Erudito e didático.
Como admirador, fui e sou leitor da obra de Cardim, e tive o privilégio de ser seu aluno, mas não gostaria de fazer esse brevíssimo registro em sua memória sem considerar um aspecto da sua biografia que me impactou a distância, muito depois de estar longe de qualquer convivência na UFRJ.
Nos anos 90, Cardim não era visto como alguém que mantinha posições identificáveis como esquerdistas. Era keynesiano e ponto final. Foi interessante ver Cardim se deslocando para a esquerda ao longo dos governos petistas, não porque ele tivesse alterado suas posições, mas porque o mundo acadêmico econômico caminhou para a direita. Lembramos um artigo de 2015 (PDF) que recomendo sem restrição para todos os funcionários do BNDES. Cardim operava num plano de convicções, amarrado em princípios, distante de ambições fúteis. Não obstante o brilho do acadêmico, é como exemplo de intelectual independente que acredito que Cardim tem mais para contribuir para o momento que vivemos no país.