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O MoMenTo e o BNDES sob o Governo de União Nacional

“Há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. (Lenin)
Tivesse ficado na Inglaterra, ao invés de vir ajudar a mudar o Brasil da Globo para um mundo plano, talvez Gustavo tivesse tomado notícia disso: 
The MPC will keep under review the case for participating in the primary market. 

Vínculo 1386 – Traduzindo do economês para o português, o banco central do Reino Unido está anunciando que poderá comprar títulos do Tesouro diretamente, e não mais apenas através de mercado secundário visando somente controlar a curva de juros. Não mais pagando um pequeno pedágio às instituições financeiras, não mais contribuindo para a valorização de seus portfólios. Dinheiro direto para o Tesouro. Qual o sentido desta loucura? Como o Tesouro irá pagar isso? Zimbabwe! Weimar! 

Entrego a explicação a um ex-presidente do Banco, Pérsio Arida. Pérsio, que pode ter seus pecados, que pode na condição de um dos ideólogos de uma candidatura fadada ao fracasso – a de Geraldo – ter se dado ao luxo de falar um monte de inconsequentes groselhas neoliberais radicais durante o ano de 2018. Pérsio, que se vendeu ao mercado, que andou detonando com o Banco. Mas em meio a esta crise, Pérsio ainda é acima de tudo um grande economista. E ele vai e escreve um texto com o seguinte parágrafo: 

“A dívida pública, qualquer que seja seu tamanho, sempre pode ser paga. No limite o Banco Central pode creditar os valores devidos na conta dos detentores dos papéis da dívida pública. Disso não decorre que o tamanho da dívida pública não faça diferença. Um estoque muito grande de dívida pública pode estimular o consumo pelo efeito riqueza. Pode aumentar, por arbitragem, o preço dos ativos reais, estimulando o investimento. Mais consumo e investimento aumentariam a demanda agregada e a inflação sempre ocorre quando há um excesso de demanda agregada. Mas só um lunático acharia que corremos um risco inflacionário nas circunstâncias atuais.”

Se vocês querem o argumento de MMT construído em um parágrafo, não penso em nada melhor do que está aí. Pérsio não assume, mas finalmente ele chega aonde está o seu ex-coautor Lara. 

De uma forma que Olavo possa entender (e explicar aos seus discípulos), na vez anterior que Urano atravessou por Touro aconteceu o keynesianismo. Agora teremos um descendente deste. E, neste sentido, a equipe econômica que temos ainda opera como se três jogadores fossem necessários para não haver impedimento (que, para quem não sabe, é como era a regra até 1925 – os técnicos cá só entenderam isso nos anos quarenta. Aí, Jesus!). Ela precisa ser trocada toda. Com urgência. Numa situação normal,Guedes poderia operar um medíocre feijão com arroz a Maílson & Meirelles, misturado com a sua pauta de reversão dos direitos trabalhistas aos praticados por donos de quitanda do interior dos anos sessenta. Mas nesse momento, depois de umas declarações perto das quais as de Zélia soariam brilhantes como Conceição Tavares, Guedes virou Queiroz. 

Mantendo-se na contramão do mundo, com a desordem dos muitos milhares de pessoas que irão morrer a mais por conta do atraso (tão bem retratado pelo Pérsio) em encarar o problema do coronavírus, esse governo perdeu sua legitimidade. Antes da eleição achei que em algum momento o Exército promoveria uma noite das longas facas sobre os malucos do bolsonarismo. Nunca imaginei que fosse necessário fazer isso sobre o próprio e seus filhos, mas parece não haver alternativa a respeito. Não há mais respeito por ele entre os governadores, os juízes do Supremo, os congressistas e a imprensa. Nenhum dos quatro poderes, portanto. 

Resta a quem o pôs lá, a quem ameaçou o Judiciário para impedir que Lula participasse da eleição, dois caminhos: dobrar a aposta ou abrir uma nova mesa. No primeiro caso significa usar do cabo e do soldado, não só do Exército quanto das PMs. Significa, ao contrário de 64, fazer o golpe a favor de um governo impopular, e ao contrário de 69, sem crescimento. Um Brasil sob o olhar atento do fuzil. Boa sorte, EB! Vocês vão precisar. 

No segundo caso, a crise institucional e a complexidade de ações para tocar uma condução tolerável das crises humanitária e econômica, e a reconstrução que será necessária passada a ameaça da doença, exigirão um governo com um nível de suporte de consenso como foi o acordo em torno da construção do governo Tancredo. Conquanto, sem as figuras de Tancredo, Sarney e Ulisses para conduzir essas negociações. Temos um Congresso emasculado pela eleição de 2018 e pelo macarthismo da Lava-Jato. Qual seja, há um consenso a ser feito sem que haja lideranças de expressão e credibilidade. Estruturas de poder paralelas, como a LIDE de Dória, por exemplo, se mostraram mais máquinas de tomada do poder do que lugares capazes de produzir consensos. Itamar, que sucedeu a Collor, era um caricato, mas experiente político, e não um caricato, alternando entre o general que requer haldol e um pijama-de-força e um bonachão gaúcho-manauara que é uma síntese da diversidade deste país, e obscuro general filiado a um partido que sequer elegeu um deputado na última eleição. 

Portanto, dada a centralidade do Exército em qualquer tipo de remoção de Jair, e a ausência de uma força de consenso nacional, o que se pode vislumbrar é algum tipo de governo de salvação com o Supremo e com tudo. 

E, neste sentido, faço a ousadia de dar meus dois centavos para esta discussão. 

O primeiro deles é que o BNDES tem que ser entendido nesta crise não só como um banco de desenvolvimento clássico, mas como parte do pacote de intervenção no mercado. De preferência visando a tornar isso uma prática permanente. Não só na alocação do capital, mas no provimento de liquidez e estabilidade para além da atuação tradicional do BACEN. 

O segundo é que nesta crise talvez se deva refletir se o atual presidencialismo do Banco não é um erro. Creio que parte do sucesso de Luciano foi resultado do checks and balance de alguns diretores nomeados por Brasília com mandatos e alinhamentos políticos distintos dos do presidente do Banco. Nessa crise de legitimidade que enfrentaremos, ao invés de um presidente, creio que ter um triunvirato com aqueles presidentes do Banco que foram os mais dinâmicos e/ou empáticos dos quatro presidentes que tivemos antes de Bolsonaro – Mendonça de Barros, Luciano Coutinho e Rabello de Castro –, pessoas com a experiência, reflexão, e, creio eu, com a capacidade de somar entendimentos ao invés de conduzir autos de fé. Um triunvirato, com mais dois diretores indicados por cada um deles, atuando por consenso e com bom senso. 

E lembrando aos militares que se foi nas Agulhas Negras que eles começaram suas carreiras, é para lá que devem buscar sua solução. Em Resende. Mais especificamente, em Lara Resende e Felipe Rezende. O momento de MMT chegou. 

PS: mas nem tudo! Dois pequenos detalhes, lembrete aos que conhecem as propostas do campo de MMT. A crise imporá programas de renda mínima. O que quer dizer que a ideia de empregador de última instância, central às propostas de esquerda do campo, ficará prejudicada. O segundo ponto é que o Cassino de Keynes, de alguma forma, continuará existindo e ditando as regras. O Cassino pré-existe e independe da ordem neoliberal, embora esta o tenha ajudado muito. 

PS2: entre a noite de sexta (27) em que escrevi este artigo e a terça (31) onde se celebraram os 56 anos da bem-sucedida quartelada de 64, coisas aconteceram. Amigos com quem usualmente reflito mostraram uma preocupação com a questão da oferta, da manutenção do abastecimento de coisas que você compra no supermercado. E aí vejo o maior de nossos palmeirenses, o neurocientista Miguel Nicolelis, em seu canal no youtube (muito bom, diga-se de passagem), falando de uma história de que nosso boçal Nero estaria, no papel de palhaço, querendo botar fogo no circo, estimulando uma paralisação dos caminhoneiros. Essa é uma questão crucial sobre a qual o Exército, acima de qualquer outra instituição, deveria estar atuando e executando planos a respeito. Infelizmente, não há evidências nesse sentido. Antes de qualquer questão de natureza financeira, deveria ser endereçada a questão logística e da criação de uma estrutura que impeça desabastecimento e fome num momento em que a produção se contrai. Além de uma inflação cujo impacto não deveria influenciar nossa política monetária (mas vai pela jabuticaba da meta de inflação cheia), ela vai causar atos desesperados de violência. E mais mortes e sofrimento a se somar aos da pandemia.

Associação dos
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