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Salvando Maria Silvia

Arthur KoblitzVice-presidente da AFBNDES

Vínculo 1252 – Em seu depoimento à Polícia Federal na última sexta-feira (16), Joesley Batista confirma que o atual presidente
Michel Temer fez gestões junto à ex-presidente Maria Silvia para conseguir a aprovação da reestruturação da JBS.

É verdade que nunca se teve grande esperança no presidente Temer, mesmo as elites, ao menos as mais esclarecidas ou realistas. O mesmo não pode ser dito sobre Maria Silvia. Afinal, ela fazia parte do dream team da equipe econômica, a grande razão por que teríamos que aceitar a constrangedora equipe que ocupou e ainda ocupa o Planalto com o presidente.

Qual seria a consequência de uma das estrelas do dream team estar envolvida em pressão para aprovar um pedido de Joesley Batista? Do ponto de vista do drama nacional, a aprovação da reestruturação colocaria alguma dúvida sobre a real separação entre o time dos sonhos e o time do constrangimento. Estaríamos diante de laços inesperados entre as equipes.

Sabemos que o BNDES não aprovou a reestruturação. Então sabemos que Maria Sílvia e sua diretoria não atenderam à suposta demanda de Temer. Mas como deve ter sido o processo que levou a essa tomada de decisão? E qual o papel da ex-presidente nele?

A primeira ironia nessa história hipotética independe da resposta a essas perguntas. Houvesse o BNDES aprovado a reestruturação, seríamos acusados de indício de irregularidade, mas note-se que agora com uma diferença fundamental em relação à corrente investigação do TCU e da Polícia Federal: teríamos uma conexão entre um pedido específico da JBS e uma decisão do Banco.

Mas voltando às perguntas, ironias menos óbvias são detectáveis. Podemos começar especulando sobre a quem Maria Silvia daria mais ouvidos inicialmente. Será que ela escutaria o que lhe informavam os técnicos da “caixa preta” ou os intelectuais do Insper, com quem ela e seu diretor de Planejamento compartilham afinidades ideológicas e, em particular, visões sobre o BNDES?

A posição do think tank mais crítico ao BNDES e sua política de “campeões nacionais” foi pública. Um de seus intelectuais mais conhecidos, especialista em “capitalismo de laços”, foi favorável à reestruturação e questionou a posição contrária do Banco. Segundo reportagem do Valor Econômico (28/10/16), Sérgio Lazzarini estranhou “a justificativa do banco, de que a reorganização societária provocaria a desnacionalização da companhia”. Segundo ele, “seria uma justificativa que a gente ouviria nos governos Lula e Dilma, e não nessa nova transição aí”.

O que os críticos dos “campeões nacionais” parecem não compreender é a primeira lição sobre o tema. O problema do apoio a grandes empresas não é o apoio em si, mas a forma como ele acontece. A questão pode ser simplificada na pergunta: Quais são as contrapartidas exigidas nesse apoio? Claro que não permitir que a JBS se torne uma empresa com interesses fundamentais deslocados do Brasil é uma contrapartida essencial. Evidencia-se, aqui, o desfoque do debate público brasileiro. Deveríamos estar discutindo o que o BNDES deve exigir das grandes empresas que apoia, não se o BNDES deve apoiá-las.

Maria Silvia sempre se sentiu pouco à vontade para defender o corpo técnico que trabalha na “caixa preta”. Irônico destino ter sido esse corpo técnico – e não seus conselheiros habituais – que a salvou de afundar na lama do noticiário junto com o time constrangedor que é o governo que decidiu representar.

As ironias nessa história são muitas. Mas o mais importante é o que essa história recente revela sobre como age o corpo técnico do BNDES.

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